Mauricio
Candido da Silva
Museu
de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade de São Paulo
Apresentação
O Museu de Anatomia Veterinária Prof Plínio
Pinto e Silva da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
de São Paulo (MAV) foi criado oficialmente em 1984, a partir da
institucionalização das coleções de peças anatômicas existentes nesta
faculdade, resultantes dos estudos desenvolvidos por professores e alunos para
as aulas práticas da disciplina de anatomia. O MAV é um caso exemplar de museu
universitário, pertencente a uma instituição de ensino, formada por coleções de pesquisa (LOURENÇO, 2005),
cujos atuais objetivos iniciam-se na pesquisa de preparação de peças por meio
do desenvolvimento de técnicas específicas, envolvem a formação de coleções
representativas e a salvaguarda de diferentes exemplares, culminando no ensino
da medicina veterinária, com ênfase na anatomia.
Para acompanhar o deslocamento da nova
sede da FMVZ da USP, entre 2004 e 2005 o MAV passou por uma traumática mudança
de endereço, o que resultou em perda de exemplares de suas coleções, de
visitantes e na organização de uma exposição em 2008, num espaço pouco
apropriado para o desempenho de suas funções museológicas. Foi um período de
muito desgaste para o museu como um todo. Contudo, em 2010, no contexto de
esforço administrativo da Faculdade para a recuperação das atividades deste
museu, o MAV teve sua equipe ampliada e passou por uma adaptação em sua
estrutura física e organizacional. Nestes dois últimos anos o MAV vem
implantando uma nova logística de trabalho, centrada na sistematização do seu
planejamento e de suas práticas, baseadas em Programas de Trabalho que se conectam
entre si sob a lógica de um sistema de ações museológicas (BOTTALLO,
2007). Nesta gama de atuação preservacionista, daremos enfoque ao aspecto da
extensão universitária praticada por este museu, representada aqui pela
perspectiva da divulgação científica (VOGT, 2006).
A
Divulgação Científica no MAV
Dos
pontos de vista histórico e tipológico, o Museu de Anatomia Veterinária da FMVZ
USP pertence à linhagem dos Museus de História Natural, mas que se especializou
no ramo dos Museus de Anatomia Comparada e no sub-ramo da Anatomia Veterinária
(SILVA, 2003). Essa categorização traça as margens do plano de ação e
possibilita visualizar um público alvo bastante definido para o MAV. Suas
coleções são constituídas por peças oriundas das atividades desenvolvidas nos
laboratórios da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP,
caracterizadas por sua origem biológica (peças anatômicas de animais) e pelas
técnicas de conservação (maceração, desidratação, diafanização, fixação em
formaldeído, glicerinação, injeção de látex e taxidermia). A infraestrutura do
museu e seu regimento estão diretamente ligados à organização administrativa
dessa unidade universitária de ensino, pesquisa e extensão. O público que o
frequenta é majoritariamente estudantil (gráfico 1). Não há muitos museus dessa
tipologia no Brasil e todos são vinculados a instituições universitárias de
medicina veterinária[1].
gráfico 1: perfil de visitante do MAV durante o ano de 2011.
Nesse contexto, a divulgação cientifica no MAV
passou a ser planejada e executada por uma metodologia baseada em Programas de
Trabalho, sendo eles definidos como: Comunicação, Educativo e de Avaliação.
Tais Programas, dentre outros existentes no museu, foram criados e implantados
em 2010, centrados na nova exposição, e estão em pleno andamento. Por conta da
nova exposição, estrutura basal da estratégia de divulgação
cientifica do MAV, inaugurada em setembro de 2010, cujo título é ‘Dimensões do
corpo: da anatomia à microscopia’,
passamos a contar com uma estratégia mais definida de comunicação para
os diferentes tipos de visitantes pertencentes ao seu campo de interesse, agregando
materiais impressos e uma nova interface museu-público alvo por meio de uma
nova página eletrônica na internet, que cumprem a missão de divulgar e atrair
visitantes ao museu. O Programa de Avaliação de resultados dessa estratégia
revela o início de um caminho que parece ser promissor, pois tivemos um
significativo aumento no número de visitantes do museu (gráficos 2 e 3)[2].
Nesse sentido, a nova página eletrônica do museu (www.mav.fmvz.usp.br) tem se
mostrado extremamente eficaz, com média de 560 acessos mensais.
gráfico 2: número
de visitantes do MAV por ano. gráfico
3: variação percentual de Visitantes do mAV por ano.
O projeto da nova
exposição reorganizou o acervo existente, dentro do espaço disponível, a partir de um roteiro estruturado em seis módulos
expositivos, a saber: ‘A FMVZ da USP e sua história’, ‘O que
é anatomia comparada’, ‘Origem e diversidade das espécies’, ‘Anatomia dos
órgãos e sistemas’, ‘Osteologia e morfologia’. O
projeto expográfico partiu do reaproveitamento do mobiliário expositivo, mas no
contexto de uma nova visualidade, gerada pela nova identidade visual criada
para o MAV, desdobrada em toda a comunicação visual do museu, a partir de uma
logomarca.
Comentários
A estrutura modular vem permitindo ajustes e melhorias nos temas
apresentados no circuito expositivo, sem alteração da proposta conceitual, seja
como resultado de novas aquisições de acervo, melhoria dos suportes
expositivos, aperfeiçoamento da linguagem expositiva ou mesmo por orientação da
demanda pública. Neste último caso, o que tem contribuído de forma mais
intensiva é a adequação do Programa Educativo do MAV ao currículo escolar,
buscando um diálogo mais próximo entre o museu e as escolas. Com isso, podemos
considerar que a difusão científica praticada pelo MAV tem os Programas de
Trabalho como sistema neurológico e a exposição como sua coluna cervical de um
corpo em estruturação. Essa tem sido a nossa estratégia para a renovação deste
museu. Neste momento, estamos consolidando as estratégias
adotadas e avançando na implantação dos programas planejados. Uma avaliação
continuada apresentará um quadro de modificações e adições necessárias em
nossos projetos.
É necessário considerar para a divulgação científica no MAV que
toda exposição em um museu universitário tem por princípio a extensão cultural
de suas pesquisas. A democratização do acesso a essa categoria de informação é
uma bandeira que essa tipologia de museu carrega, pois sua função primordial é
tornar público o conhecimento gerado nos laboratórios de pesquisa. A exposição
é um espaço dedicado à interatividade, multiplicidade de idéias e debates,
características do ensino não formal. O possível resultado dessa experiência é
o pleno exercício da cidadania, no qual o sujeito (visitante) tem a
oportunidade de se apropriar de um conhecimento científico e aplicá-lo ao seu
cotidiano, pois abordamos aspectos relacionados à saúde dos animais e das próprias
pessoas, estimulando o visitante a refletir e intervir nos processos de
reconhecimento do corpo e seu cuidado.
Referência
bibliográfica
- BOTTALLO, Marilúcia. Poder, cultura e
tecnologia: O museu de arte e a sociedade de comunicação. Novos Olhares
(USP), v. 10, p. 4-16, 2007.
- CERAVOLO, Suely Moraes. Proposta de sistema de informação
documentária para museus (SIDIM): a organização da informação para o Museu
de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da
Universidade de São Paulo. 1998. Dissertação (Mestrado
em Biblioteconomia e Documentação). Escola de Comunicação e Artes, Universidade
de São Paulo. 1998, 125p.
- INSTITUTO
BRASILEIRO DE MUSEUS. Guia dos Museus
Brasileiros. Brasília, IBRAM, 2011, 592p.
- LOURENÇO, Marta C.
Between two worlds: the distinct
nature and contemporary significance of university museums and collections in
Europe. 2005. PhD dissertation, Conservatoire National des Arts et Métiers, Paris, 2005, 432p.
- SILVA, Maurício Cândido da. Christiano Stockler das Neves e o Museu de
Zoologia da Universidade de São Paulo. 2006. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de
São Paulo. 2006, 274p.
- VOGT, Carlos (org). Cultura Científica: Desafios, São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Fapesp, 2006, 231p.
[1] No Brasil, além
do MAV, existem mais cinco museus em atividade dessa tipologia, a saber: Museu
de Anatomia Comparada da Universidade Federal da Bahia; Museu de Anatomia
Animal Comparada da Universidade Federal de Viçosa (IBRAM, 2011); Museu
Itinerante de Anatomia Animal da Universidade do Vale do São Francisco; Museu
de Anatomia Comparada da Universidade Federal Rural de Pernambuco; Museu de
Anatomia Veterinária da Universidade de Brasília.
[2] A nova exposição foi
inaugurada no dia 11 de setembro de 2010 e, para sua preparação, o museu ficou
fechado durante três meses, o que influenciou na taxa anual de visitação.
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