Quem sou eu

Belo Horizonte
O "Colóquio Internacional: Tendências contemporâneas da comunicação científica: desafios e perspectivas" foi promovido pela Diretoria de Divulgação Científica, orgão da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram debatidos os principais desafios da comunicação científica contemporânea tanto em ambientes corporativos quanto em redes entre países da América do Sul.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A Divulgação Científica no Museu de Anatomia Veterinária da FMVZ USP


Mauricio Candido da Silva
Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo
Apresentação
O Museu de Anatomia Veterinária Prof Plínio Pinto e Silva da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (MAV) foi criado oficialmente em 1984, a partir da institucionalização das coleções de peças anatômicas existentes nesta faculdade, resultantes dos estudos desenvolvidos por professores e alunos para as aulas práticas da disciplina de anatomia. O MAV é um caso exemplar de museu universitário, pertencente a uma instituição de ensino, formada por coleções de pesquisa (LOURENÇO, 2005), cujos atuais objetivos iniciam-se na pesquisa de preparação de peças por meio do desenvolvimento de técnicas específicas, envolvem a formação de coleções representativas e a salvaguarda de diferentes exemplares, culminando no ensino da medicina veterinária, com ênfase na anatomia.
Para acompanhar o deslocamento da nova sede da FMVZ da USP, entre 2004 e 2005 o MAV passou por uma traumática mudança de endereço, o que resultou em perda de exemplares de suas coleções, de visitantes e na organização de uma exposição em 2008, num espaço pouco apropriado para o desempenho de suas funções museológicas. Foi um período de muito desgaste para o museu como um todo. Contudo, em 2010, no contexto de esforço administrativo da Faculdade para a recuperação das atividades deste museu, o MAV teve sua equipe ampliada e passou por uma adaptação em sua estrutura física e organizacional. Nestes dois últimos anos o MAV vem implantando uma nova logística de trabalho, centrada na sistematização do seu planejamento e de suas práticas, baseadas em Programas de Trabalho que se conectam entre si sob a lógica de um sistema de ações museológicas (BOTTALLO, 2007). Nesta gama de atuação preservacionista, daremos enfoque ao aspecto da extensão universitária praticada por este museu, representada aqui pela perspectiva da divulgação científica (VOGT, 2006).
A Divulgação Científica no MAV
Dos pontos de vista histórico e tipológico, o Museu de Anatomia Veterinária da FMVZ USP pertence à linhagem dos Museus de História Natural, mas que se especializou no ramo dos Museus de Anatomia Comparada e no sub-ramo da Anatomia Veterinária (SILVA, 2003). Essa categorização traça as margens do plano de ação e possibilita visualizar um público alvo bastante definido para o MAV. Suas coleções são constituídas por peças oriundas das atividades desenvolvidas nos laboratórios da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, caracterizadas por sua origem biológica (peças anatômicas de animais) e pelas técnicas de conservação (maceração, desidratação, diafanização, fixação em formaldeído, glicerinação, injeção de látex e taxidermia). A infraestrutura do museu e seu regimento estão diretamente ligados à organização administrativa dessa unidade universitária de ensino, pesquisa e extensão. O público que o frequenta é majoritariamente estudantil (gráfico 1). Não há muitos museus dessa tipologia no Brasil e todos são vinculados a instituições universitárias de medicina veterinária[1].
gráfico 1: perfil de visitante do MAV durante o ano de 2011.
Nesse contexto, a divulgação cientifica no MAV passou a ser planejada e executada por uma metodologia baseada em Programas de Trabalho, sendo eles definidos como: Comunicação, Educativo e de Avaliação. Tais Programas, dentre outros existentes no museu, foram criados e implantados em 2010, centrados na nova exposição, e estão em pleno andamento. Por conta da nova exposição, estrutura basal da estratégia de divulgação cientifica do MAV, inaugurada em setembro de 2010, cujo título éDimensões do corpo: da anatomia à microscopia’, passamos a contar com uma estratégia mais definida de comunicação para os diferentes tipos de visitantes pertencentes ao seu campo de interesse, agregando materiais impressos e uma nova interface museu-público alvo por meio de uma nova página eletrônica na internet, que cumprem a missão de divulgar e atrair visitantes ao museu. O Programa de Avaliação de resultados dessa estratégia revela o início de um caminho que parece ser promissor, pois tivemos um significativo aumento no número de visitantes do museu (gráficos 2 e 3)[2]. Nesse sentido, a nova página eletrônica do museu (www.mav.fmvz.usp.br) tem se mostrado extremamente eficaz, com média de 560 acessos mensais.
 
gráfico 2: número de visitantes do MAV por ano.      gráfico 3: variação percentual de Visitantes do mAV por ano.
O projeto da nova exposição reorganizou o acervo existente, dentro do espaço disponível, a partir de um roteiro estruturado em seis módulos expositivos, a saber: ‘A FMVZ da USP e sua história’, ‘O que é anatomia comparada’, ‘Origem e diversidade das espécies’, ‘Anatomia dos órgãos e sistemas’, ‘Osteologia e morfologia’. O projeto expográfico partiu do reaproveitamento do mobiliário expositivo, mas no contexto de uma nova visualidade, gerada pela nova identidade visual criada para o MAV, desdobrada em toda a comunicação visual do museu, a partir de uma logomarca.
Comentários
A estrutura modular vem permitindo ajustes e melhorias nos temas apresentados no circuito expositivo, sem alteração da proposta conceitual, seja como resultado de novas aquisições de acervo, melhoria dos suportes expositivos, aperfeiçoamento da linguagem expositiva ou mesmo por orientação da demanda pública. Neste último caso, o que tem contribuído de forma mais intensiva é a adequação do Programa Educativo do MAV ao currículo escolar, buscando um diálogo mais próximo entre o museu e as escolas. Com isso, podemos considerar que a difusão científica praticada pelo MAV tem os Programas de Trabalho como sistema neurológico e a exposição como sua coluna cervical de um corpo em estruturação. Essa tem sido a nossa estratégia para a renovação deste museu. Neste momento, estamos consolidando as estratégias adotadas e avançando na implantação dos programas planejados. Uma avaliação continuada apresentará um quadro de modificações e adições necessárias em nossos projetos.
É necessário considerar para a divulgação científica no MAV que toda exposição em um museu universitário tem por princípio a extensão cultural de suas pesquisas. A democratização do acesso a essa categoria de informação é uma bandeira que essa tipologia de museu carrega, pois sua função primordial é tornar público o conhecimento gerado nos laboratórios de pesquisa. A exposição é um espaço dedicado à interatividade, multiplicidade de idéias e debates, características do ensino não formal. O possível resultado dessa experiência é o pleno exercício da cidadania, no qual o sujeito (visitante) tem a oportunidade de se apropriar de um conhecimento científico e aplicá-lo ao seu cotidiano, pois abordamos aspectos relacionados à saúde dos animais e das próprias pessoas, estimulando o visitante a refletir e intervir nos processos de reconhecimento do corpo e seu cuidado.
Referência bibliográfica
- BOTTALLO, Marilúcia. Poder, cultura e tecnologia: O museu de arte e a sociedade de comunicação. Novos Olhares (USP), v. 10, p. 4-16, 2007.
- CERAVOLO, Suely Moraes. Proposta de sistema de informação documentária para museus (SIDIM): a organização da informação para o Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. 1998. Dissertação (Mestrado em Biblioteconomia e Documentação). Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo. 1998, 125p.
- INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS. Guia dos Museus Brasileiros. Brasília, IBRAM, 2011, 592p.
- LOURENÇO, Marta C. Between two worlds: the distinct nature and contemporary significance of university museums and collections in Europe. 2005. PhD dissertation, Conservatoire National des Arts et Métiers, Paris, 2005, 432p.
- SILVA, Maurício Cândido da. Christiano Stockler das Neves e o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. 2006, 274p.
- VOGT, Carlos (org). Cultura Científica: Desafios, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Fapesp, 2006, 231p.


[1] No Brasil, além do MAV, existem mais cinco museus em atividade dessa tipologia, a saber: Museu de Anatomia Comparada da Universidade Federal da Bahia; Museu de Anatomia Animal Comparada da Universidade Federal de Viçosa (IBRAM, 2011); Museu Itinerante de Anatomia Animal da Universidade do Vale do São Francisco; Museu de Anatomia Comparada da Universidade Federal Rural de Pernambuco; Museu de Anatomia Veterinária da Universidade de Brasília.
[2] A nova exposição foi inaugurada no dia 11 de setembro de 2010 e, para sua preparação, o museu ficou fechado durante três meses, o que influenciou na taxa anual de visitação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário