Cynthia Iszlaji¹ (ciszlaji@usp.br); Natalia Leporo¹ (natalia.leporo@usp.br); Andrea Fernandes
Genehr² (temporona@yahoo.com.br);
Juliane
Quinteiro Novo² (juliane.novo7@gmail.com);
Bruna
Gabriele Aguiar² (brunagabrieles@gmail.com); Martha Marandino¹ (marmaran@usp.br)
1 - Faculdade de Educação –
Universidade de São Paulo; 2 – Instituto Butantan
Introdução
A
divulgação científica[1] assume um papel primordial
na sociedade atual, por conta da inegável presença e importância da ciência e
tecnologia na vida cotidiana dos cidadãos. Dessa forma os meios de divulgação
científica, como a escola, as rádios, televisão, museus, revistas, internet,
entre outros, merecem especial atenção para promover melhorias na socialização
do conhecimento científico de forma crítica para a população.
A importância atribuída à
divulgação científica tem se estendido nas últimas décadas, em razão de
diversos fatores como o crescimento das produções científicas, a necessidade de
maior controle social sobre os impactos das atividades científicas e
tecnológicas, a necessidade de ações para solução de problemas cotidianos, a
crescente complexidade das produções da ciência e a necessidade de traduzi-las
a não especialistas, ou seja, para o público geral (LEITÃO e ALBAGLI, 1997).
Com base nesse cenário e
considerando a carência de debates e discussões acerca dessa temática, no que
se refere a formação de alunos da escola básica, elaborou-se o projeto
“Formando divulgadores da ciência”. Este
foi desenvolvido pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
(FEUSP) dentro do programa de Pré-Iniciação Científica promovido pela Secretária
da Educação do Estado de São Paulo em parceria com a Universidade de São Paulo,
Santander e CNPq, que prevê a inserção de alunos de escolas públicas nas
práticas de investigação desenvolvidas pelos pesquisadores da universidade. O objetivo
geral do programa de Pré-Iniciação Científica é promover o aprimoramento do
ensino público básico oferecendo a vivência em ambientes universitários e
centros de pesquisa, incentivando e despertando o interesse pela pesquisa
científica (CONTIER, et al.,2010).
O projeto
“Formandos divulgadores da ciência” envolveu também o Instituto Butantan no
bojo de uma ação conjunta do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em
Toxinas (INCTTOX/CNPq), com o objetivo de aproximar
os estudantes da cultura científica e envolvê-los principalmente na produção de
ações e materiais de divulgação da ciência. Para tal os jovens participam de
uma série de atividades em horário fora da grade escolar (contraturno) com
intuito de conhecer os processos de produção da ciência especialmente voltados
para a pesquisa em Toxinas e Biosprospecção, temáticas centrais do INCTTOX.
No ano de 2011, sobre o qual iremos
aqui debruçar, os participantes do projeto foram alunos do 2º ano do Ensino
Médio da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP, que receberam uma
bolsa de auxílio financeiro do CNPq durante o período de um ano. Nesse tempo realizaram
atividades que apresentaram por um lado algumas características do processo de
produção da ciência e por outro, ações e meios de divulgação científica.
O desenvolvimento do projeto
Por meio de diferentes atividades desenvolvidas em três blocos temáticos, os alunos foram
protagonistas na produção de ações e materiais de divulgação científica e de educação não-formal.
Os encontros foram realizados tanto
na Faculdade de Educação da USP como por meio de visitas à diferentes
instituições como museus, rádio, revista de divulgação científica e laboratórios
do Instituto Butantan, além de palestras e oficinas com profissionais
envolvidos na divulgação da ciência.
Os blocos temáticos tiveram
diferentes enfoques. O primeiro intitulado “Divulgação científica” teve como
objetivos, apresentar o programa de modo geral, apresentar diferentes mídias de
divulgação científica, como histórias em quadrinhos e charges, rádio, revistas
e museus.
No segundo bloco “Ciência e
sociedade” os alunos puderam conhecer algumas produções do INCTTOX, visitando
laboratórios de pesquisas do Instituto Butantan e conversando com os
pesquisadores responsáveis por pesquisas que tratavam temas como
biodiversidade, toxinas, vacinas veterinárias. Os laboratórios visitados foram:
Laboratório de
Parasitologia e Entomologia, Laboratório de Biologia
Molecular, Laboratório
de Pesquisa e Desenvolvimento de Imunobiológicos Veterinários,
Laboratório de Bioquímica e Biofísica e por fim Laboratório de Imunoquímica.
O objetivo desse bloco foi
problematizar a relação existente entre as pesquisas desenvolvidas nesses
laboratórios com a sociedade, por meio da divulgação científica.
Por último, o terceiro bloco buscou
aproximar os alunos de materiais de divulgação produzidos por instituições de
pesquisas e de educação não-formal. Uma das atividades que permearam a
realização dos três blocos foi a produção e alimentação de um blog [2]de
divulgação. Para isso os alunos deveriam postar com regularidade síntese das
atividades por eles desenvolvidas com a finalidade de divulgar as ações
desenvolvidas no âmbito do INCTTOX.
Como tarefa final, os alunos
desenvolveram um pôster sobre suas produções realizadas ao longo do projeto o
qual foi apresentado em um evento que reuniu todos os alunos da SEE/SP que
participaram do Programa de Pré-Iniciação Científica.
Os três blocos foram desenvolvidos
de forma articulada com o objetivo de fazer
com que os alunos percebessem que os
três fatores - a ciência, a divulgação e a sociedade - estão relacionados e que
os divulgadores tem um papel importante na intermediação entre a ciência e a
sociedade.
As produções dos alunos
A participação dos alunos no projeto foi pautada não
só em visitas e palestras, mas também nas produções individuais e coletivas,
que se configuraram em momentos de esforço intelectual, reflexão, discussão e
sistematização de assuntos da temática de divulgação científica.
Dentre essas produções destacamos
algumas que consideramos mais significativas:
·
Produção de um
diorama[3].
O foco da atividade foi produzir um cenário que representasse algumas ideias
sobre biodiversidade, a partir de uma visita a um museu de ciências. Os alunos,
no papel de divulgadores da ciência, tiveram o desafio de representar por meio
de uma cena aspectos da biodiversidade para o público em geral.
·
Montagem de uma
maquete. A maquete foi fruto da releitura de um texto sobre a vida e o trabalho
do cientista no laboratório de Bruno Latour (LATOUR e Woolgar, 1997).
O objetivo foi fazer com que os alunos realizassem uma releitura da imagem do
cientista, humanizando-o e distanciando-o de estereótipos midiáticos atribuídos
à eles, como profissionais que vivem trancados em seus laboratórios solitários
e loucos.
·
Elaboração de um
mapa de conceitos. Ao longo dos encontros do projeto os alunos tinham a tarefa
de anotar as palavras-chave relacionadas aos temas abordados. Em uma etapa
final do projeto, os alunos resgataram todas as palavras registradas nos
encontros e produziram um mapa de conceitos coletivo. O mapa de conceitos é uma
importante ferramenta para elucidar as relações entre os conceitos abordados pelos
alunos, a fim de eles próprios organizarem e sistematizarem as relações
existentes entre os assuntos e ideias discutidos ao longo do projeto.
·
Criação de um blog. Durante a realização dos três blocos, os alunos criaram e alimentaram
um blog com relatos das atividades
desenvolvidas, suas produções escritas e fotografias, sempre com a preocupação
de utilizar uma linguagem acessível à todos públicos que por ventura visitem blogs de ciência.
Considerações finais
Consideramos que a experiência da Pré-Iniciação Científica
foi bastante proveitosa para os alunos, na medida em que se aproximaram de
elementos característicos da cultura científica como a produção de conhecimento
por meio de pesquisas, a divulgação dessas para a sociedade, e a própria
vivência no espaço universitário.
O intuito foi
fazer com que os alunos percebessem que a ciência, a divulgação e a sociedade
estão relacionados de inúmeras formas, que passam por questões políticas,
éticas, econômicas e culturais. E que os divulgadores têm um papel importante
na intermediação entre a ciência e a sociedade.
Contudo
destacamos também os desafios de desenvolvimento de projetos dessa natureza,
voltados para os alunos de ensino médio e desenvolvidos fora do currículo
escolar. O envolvimento, presença e comprometimento dos alunos foi sendo
construído ao longo do processo e mostrou a necessidade de estabelecer
negociações não só com os representantes da escola – professores e
coordenadores – como com os próprios alunos.
Bibliografia
CONTIER, D.;
OLIVEIRA, A. D.; BIZERRA, A.; CAFFAGNI, C. W.; SCHUNCK, A.; SCARPA, D.;
GIORDAN, M.; MARANDINO, M. Ações de
educação e comunicação do laboratório de proução e avaliação de materiais de
Ensino de Ciências e Divulgação Científica – INCTTOX. Revista de Ensino de
Biologia da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEenBio). v.3, outubro
de 2010.
KRASILCHIK,
M.; MARANDINO, M. Ensino de Ciências e
cidadania. 2.ed. São Paulo: Moderna,
2007.
LATOUR, B.; WOOLGAR, S. A Vida de Laboratório: a produção dos fatos
científicos, Rio de janeiro:
Relume Dumarã, 1997.
LEITÃO, P.; ALBAGLI, S. Popularización de la ciencia y
la tecnología: una revisión de la literatura. In: MARTÍNEZ, E.; FLORES, J. La popularización de la ciencia y la
tecnología: Reflexiones básicas. México: Fondo de cultura
económica, 1997.
OLIVEIRA,
A. D. de. Biodiversidade e museus de
ciências: um estudo sobre transposição museográfica nos dioramas. 2010. 173
f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências). Instituto de Física, Instituto
de Química, Instituto de Biociências e Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2010.
[1] O termo “divulgação
científica” apresenta variações como “popularização da ciência”, “alfabetização
científica”, “ciência, tecnologia e sociedade (CTS)”, “vulgarização da
ciência”, “difusão da ciência” os quais são hoje expressões comuns na
literatura especializada, apresentando ora os mesmos significados e ao
referindo-se à diferentes dimensões do mesmo processo (KRASILCHIK e MARANDINO,
2007).
[2] Blog “Divulgadores da Ciência”.< http://divulgadoresdaciencia.blogspot.com.br/>.
[3] Dioramas
são objetos expositivos tradicionais de museus de História Natural. São cenários,
representações de cenas reais de espécies animais e plantas em ambientes
naturais (OLIVEIRA, 2010).
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