Universidades detentoras de Repositórios Institucionais e suas publicações sobre o tema

Universidades detentoras de Repositórios Institucionais e suas publicações sobre o tema

Ráisa Mendes Fernandes de Souza

Universidade Federal de Minas Gerais

raisamendes@yahoo.com.br

 

A comunidade científica vem enfrentando vários problemas relativos à publicação, disseminação e acesso ao resultado de suas pesquisas. Algumas inovações no sistema de comunicação científica, decorrentes de mudanças provocadas pelos avanços das tecnologias de informação e comunicação, estão sendo adotadas para minimizar a obsolescência precoce das publicações e obstáculos a seu acesso restrito e pago. Tais iniciativas estão relacionadas com o apoio à construção de bases eletrônicas de preprints, bibliotecas digitais de teses e dissertações, assim como softwares livres para editoração de periódicos científicos e para publicação de diferentes produtos, como anais de congressos e resumos, dentre outros. Contudo, até mesmo essas medidas, tomadas isoladamente, vêm se mostrando ineficientes, devido ao crescimento exponencial da literatura científica.

Diante desses inúmeros obstáculos para a disponibilização da literatura formal, além de todos os trabalhos produzidos pela comunidade docente e que quase nunca se transformam em artigos, os pesquisadores concluíram que alguma ação deveria ser feita. O ideal seria disponibilizar de forma centralizada todos os materiais considerados pertinentes para a comunicação científica (mesmo os que não foram ainda submetidos à publicação), sejam eles artigos, teses, monografias, slides, vídeos de palestras e documentos em áudio. Algumas instituições de ensino superior já concretizaram essa proposta com a implantação de um repositório institucional (RI), o que tornou-se recentemente objeto de  discussões entre muitos pesquisadores brasileiros das áreas de Ciência da Informação (CI) e Biblioteconomia.

No glossário de termos[1]do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), que é a maior instituição brasileira de apoio à implantação de RI,  o termo é definido como sendo “sistemas de informação que armazenam, preservam, divulgam e dão acesso à produção intelectual de comunidades universitárias”.

Crow (2002) afirma que os repositórios constituem-se como componente crítico para a reforma no sistema de comunicação científica, uma vez que: ampliam o acesso às pesquisas; aumentam o controle das instituições sobre a própria produção, reduzindo o monopólio dos periódicos científicos; podem servir como indicadores tangíveis da qualidade de uma universidade, demonstrando a relevância científica, social e econômica de suas atividades de pesquisa, o que acarretaria no aumento de sua visibilidade, status e valor perante a sociedade.

Dessa forma, os RI possuem características que os tornam a melhor alternativa para solucionar os problemas já mencionados relativos à comunicação científica. Mesmo que a implantação e manutenção de um repositório seja a preocupação central de muitas universidades, até então não foi pesquisado se as instituições que já adotaram essa tecnologia produzem conhecimento sobre o tema.

Moreno e Arellano (2005) ressaltam a importância das publicações científicas para fortalecer o ciclo do conhecimento científico, que envolve a produção, comunicação aplicação do conhecimento gerado.

Nesse processo, a publicação científica exerce uma função essencial, na medida em que viabiliza a divulgação dos resultados de pesquisa e promove a discussão entre os pares. Por um lado, a construção do conhecimento científico depende da disseminação e da transferência das informações, com o intuito de consolidar novos conceitos, por outro lado, o processo interativo de discussão e aprovação pelos cientistas garante confiabilidade à pesquisa (MORENO; ARELLANO, 2005, p. 78).

 

      É esperado que uma instituição acadêmica, detentora de um RI, possua pesquisas sobre a ferramenta que implantou e esteja engajada com o que há de mais novo sobre pesquisas alheias nesse domínio.

Este trabalho compreende um estudo cienciométrico, em vários repositórios institucionais de universidades brasileiras, a fim de analisar se elas possuem publicações relacionadas ao assunto. De acordo com Vanti (2002), atualmente, a cienciometria é uma disciplina que está sendo largamente utilizada para a medição do conhecimento científico, pois envolve estudos quantitativos das atividades científicas, incluindo a publicação.

A pesquisa tem como objetivo geral investigar se as universidades que já implantaram um repositório institucional pesquisam e publicam sobre o tema.  Seus objetivos específicos são identificar os títulos mais citados; listar os autores com maior presença nos resultados; identificar as datas de publicações desses trabalhos recuperados e identificar quais as palavras-chave mais encontradas dentre o corpus de documentos recuperados.

Realizou-se uma pesquisa quantitativa sobre os resultados recuperados nos RI de 18 universidades públicas presentes no OpenDoar, que é um diretório mundial de instituições que já implantaram repositórios de acesso aberto.

A escolha das universidades se deu aleatoriamente, sendo eleita apenas uma universidade de cada estado brasileiro que possuísse um RI. As bibliotecas digitais e demais repositórios, existentes na listagem do OpenDoar, foram desprezados. Ressaltamos que no período de coleta de dados, Julho de 2011, repositórios de algumas instituições encontravam-se indisponíveis ou apresentavam erro no momento de retorno dos itens, após a busca realizada. Tais repositórios foram excluídos do corpus de análise.

Após a definição desse recorte, foram realizadas buscas em todos os repositórios com as palavras-chave “repositório institucional” e “repositórios institucionais”, a fim de recuperar os documentos referentes a esse assunto. Os dados coletados foram tratados por meio do software Microsoft Office Excel 2007.

Das dezoito (18) universidades públicas escolhidas inicialmente, apenas cinco (05) recuperaram documentos sobre os termos pesquisados.

Foram analisados todos os títulos recuperados, sem distinção ou qualquer análise mais aprofundada sobre a sua relação com o tema.

As variáveis analisadas foram:

·         Autores que mais escrevem sobre o tema: os autores que mais aparecem com publicações nos resultados das buscas foram: Sely Maria de Souza Costa e Fernando César Lima leite, com publicações no repositório institucional da UnB; Suzana Pinheiro, Silvana A. B. G. Vidotti e Sonial Elisa Caregnato foram as autoras, dentre as de maior destaque, com quantidade menor de publicações nos repositórios da UnB, Unicamp e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

·         Assunto dos documentos: realizou-se uma contagem de todas as palavras-chave dos itens recuperados, para realizar uma análise de quais são, de acordo com o julgamento das instituições, os outros termos relacionados a RI. Primeiramente buscou-se nos RI os dois termos – repositório institucional e repositórios institucionais - que foram os mais encontrados como descritores de assunto, apesar de sua presença não ter sido unânime dentre todos os resultados. Em segundo lugar foi realizada uma contagem de todas as palavras-chave, presentes nos arquivos recuperados, tendo como resultado  um número considerável de trabalhos que não abordavam diretamente assuntos relacionados a repositórios institucionais, acesso aberto ou mesmo comunicação científica. Os assuntos ‘repositórios’ (24 ocorrências) e ‘acesso aberto’ (16 ocorrências) estão presentes em mais da metade dos temas encontrados. Ressalta-se que os resultados evidenciam certa tendência de relacionamento entre RI e a ‘gestão do conhecimento/informação’ em universidades (12 ocorrências). Os demais temas encontrados se relacionam aos RI e Acesso Aberto, em ordem decrescente de ocorrência: comunicação científica (14), conhecimento científico (04), arquivo aberto (03), Ciência da Informação (03) e uso da informação (02).

·         Data das publicações: observou-se uma maior incidência entre os anos de 2007 a 2010, demonstrando ser um assunto recente até para os pesquisadores de instituições detentoras de um RI.

A pesquisa sobre RI e acesso aberto, para as universidades que apoiam claramente essa iniciativa, deve ser incessante, o que não parece estar ocorrendo, de acordo com as análises da presente pesquisa.

Apesar de muitas pesquisas existentes abordarem a importância da implantação de um RI, notou-se que as próprias universidades que implantaram ainda não investiram completamente em seu aperfeiçoamento. Considerou-se incipientes as pesquisas sobre a temática nas próprias instituições que possuem os RI, o que requer medidas de incentivo das universidades, direcionadas aos pesquisadores e comunidade acadêmica em geral.

O presente trabalho consiste de um estudo exploratório preliminar, visando-se futuras pesquisas sobre o desempenho, tanto acadêmico quanto técnico, das universidades frente aos seus respectivos repositórios implantados.

Torna-se também importante ressaltar que a UFMG não foi incluída entre as entidades analisadas por ainda não possuir um repositório institucional implementado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CROW, R. The case for institutional repositories: A SPARC Position Paper. The Scholarly Publishing and Academic Resources Coalition. 2002. Disponível em: <http://www.arl.org/sparc/IR/ir.html> . Acesso em: 01 jul. 2012.

IBICT. Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. Disponível em: < http://www.ibict.br/>. Acesso em: 03 jul. 2012.

MORENO, Fernanda Passini; ARELLANO, Miguel Ángel Márdero. Publicação científica em arquivos de acesso aberto. Arquivística.net, Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.76-86 jan./.jun. 2005.

VANTI, Nadia Aurora Peres. Da bibliometria à webometria: uma exploração conceitual dos mecanismos utilizados para medir o registro da informação e a difusão do conhecimento. Ci. Inf., Brasília, v. 31, n. 2, p. 152-162, maio/ago. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/ci/v31n2/12918.pdf. Acesso em: 05 jun. 2012.

 

 

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[1]  http://repositorio-iul.iscte.pt/copyright/glossario.jsp