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terça-feira, 16 de outubro de 2012

UM PASSO ALÉM: O QUE UMA EXPOSIÇÃO CIENTÍFICA A CÉU ABERTO PRECISA PARA ATENDER INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN?


UM PASSO ALÉM: O QUE UMA EXPOSIÇÃO CIENTÍFICA A CÉU ABERTO PRECISA PARA ATENDER INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN?

Wanderley Carvalho

Centro Universitário Padre Anchieta


 

 

RESUMO

Este artigo avalia um projeto composto por exposições científicas em praça pública quanto ao seu potencial de atender adequadamente indivíduos com síndrome de Down. O estudo, realizado em 2011 durante uma exposição sobre aranhas para a qual foram convidados alunos de uma instituição especializada na educação de pessoas com a referida síndrome, empregou a observação desses visitantes e entrevista com a docente que os acompanhava. A análise, conduzida à luz da literatura pertinente, ao mesmo tempo em que revela o ambiente da exposição como sendo altamente propício ao trabalho de conceitos científicos junto ao público investigado, indica a necessidade de estudos mais aprofundados sobre os recursos didáticos que integram um trabalho dessa categoria.

 

INTRODUÇÃO

A importância dos ambientes não-formais de aprendizagem em Ciências vem aumentando progressivamente em todo o mundo, dado o seu potencial como recursos a serviço da educação científica dos cidadãos, seja como apoio ao trabalho formal desenvolvido por instituições públicas ou privadas de ensino, seja como fonte direta de divulgação do conhecimento acadêmico junto ao público não-escolar. Entre as peculiaridades que concorrem para esse potencial destacam-se: a) o visitante geralmente comparece ao local por sua própria escolha e lá encontra opções variadas de programas, fato que amplia o caráter opcional da visita; b) é comum que as visitas incluam a possibilidade de interagir (tocar, manipular, testar hipóteses) com materiais ou dispositivos que geralmente não se encontram disponíveis em outros lugares e c) informação científica atualizada e de qualidade encontra-se disponível de uma maneira que dificilmente ocorreria em outros meios (THIER; LINN, 1976).

Em decorrência dessas particularidades, os ambientes não-formais prestam valiosas contribuições, tais como: estímulo à curiosidade; aumento da  motivação e das atitudes; promoção da interação social, da participação e do enriquecimento pessoal; despertar do interesse pela Ciência e Tecnologia;  auxílio para uma atenção mais concentrada e para o desenvolvimento do domínio psicomotor e da compreensão de conceitos abstratos (RAMEY-GASSERT; WALBERG III; WALBERG, 1994).

Com um perfil tão diferenciado, não é de se estranhar que os ambientes não-formais estejam entre as opções de intervenção voltadas ao desenvolvimento de capacidades de pessoas com necessidades educativas especiais, notadamente as que apresentam déficit intelectual, como é o caso da síndrome de Down (CALDEIRA et al., 2009). Há quase uma unanimidade entre os educadores quanto ao interesse, envolvimento, aumento da auto-estima e aprendizagem de conteúdos que esses espaços propiciam aos alunos com tais necessidades, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos (ALVES, 2009).

Este trabalho versa sobre um ambiente não-formal dedicado à difusão do conhecimento científico e seu propósito de ampliar o caráter inclusivo que o acompanha desde a sua criação.

 

O CONTEXTO DO ESTUDO

Criado em 2002 com o nome de “Ciência na Praça”, o projeto em cujo âmbito se deu a presente investigação integra um conjunto de iniciativas de extensão universitária do Centro Universitário Padre Anchieta. As exposições, que acontecem nas manhãs de sábado em uma praça da região central de Jundiaí-SP, são concebidas, montadas e apresentadas por equipes de alunos do 3o semestre do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da instituição. Os temas, eleitos pelos próprios alunos, versam sobre assuntos pertencentes à  área das Ciências Naturais, com forte predominância da área biológica.

A estrutura básica das exposições inclui uma tenda tipo gazebo com área de 9 m2 , quatro mesas metálicas dobráveis de 0,6 m2 e dois painéis de 2m2. Ocupando esse espaço, estão os alunos expositores, os visitantes e toda a sorte de recursos ¾ espécimes, réplicas, maquetes, cartazes, microscópios ¾ o que torna o ambiente ali instalado algo extremamente dinâmico e interativo. O público, composto por transeuntes da praça, interage intensamente com os alunos-mestres, que os estimulam a interagir, também, com o material exposto. Em suma, interação e diálogo são as grandes marcas das exibições, o que as torna extremamente favoráveis à aprendizagem dos visitantes, conforme aponta estudo realizado por Sampieri, Amaral e Carvalho (2009). A despeito disso, ficam-nos dúvidas quanto à adequação das exposições para atender pessoas com necessidades educativas especiais, tais como as que apresentam a síndrome de Down.

 

OBJETIVO

Avaliar o Projeto “Ciência na Praça” quanto ao seu potencial em atender indivíduos com síndrome de Down.

 

METODOLOGIA

A investigação foi conduzida no primeiro semestre de 2011, durante uma exposição sobre o tema “Aranhas”. Mediante convite dos expositores, três alunos de uma instituição educacional especializada no atendimento de indivíduos com síndrome de Down compareceram à referida exposição, acompanhados de uma professora.

A coleta de dados empregou os seguintes instrumentos: a) observação dos visitantes, feitas tanto pelo pesquisador quanto pelos alunos-mestres e b) entrevista com a docente que acompanhava o grupo.

Na observação, o interesse recaiu sobre a interação visitante-expositor e visitante-material exposto, além de elementos indicativos de interesse, envolvimento e compreensão. Conversas entre o pesquisador e os expositores, ocorridas após a exposição, permitiram confrontar e sintetizar os dados obtidos por ambas as partes.

A entrevista com a docente, por sua vez, visou à obtenção de uma apreciação crítica geral do trabalho desenvolvido sob a óptica de uma profissional especializada na educação de pessoas com síndrome de Down.

 

RESULTADOS

A observação dos visitantes revelou dados surpreendentes. Além do interesse demonstrado e da forte interação que eles estabeleceram com os expositores e com os recursos disponíveis, houve um grande envolvimento deles com as atividades lúdicas propostas e uma clara demonstração de compreensão do conteúdo apresentado. Além disso, a julgar pelas expressões faciais, aqueles convidados estavam encantados com o que viam, ouviam e tocavam e não demonstravam ter qualquer dificuldade em participar ativamente da visita.

Além de confirmar os achados acima descritos, a entrevista com a docente agregou elementos relevantes no que tange à atuação dos expositores. Para a educadora, merecem destaque, nesse quesito: a) a atenção dedicada e a disposição em oferecer explicações por quantas vezes fosse necessário; a compatibilidade da linguagem empregada com o nível intelectual e cognitivo do visitante e c) a atuação pautada por um olhar carinhoso e atento.

 

DISCUSSÃO FINAL

Os resultados parecem corroborar o que a literatura afirma sobre visitas de portadores de necessidades cognitivas especiais a espaços não-formais de aprendizagem. Contudo, é preciso considerar que o tema da exposição investigada ¾ aranhas ¾ além de naturalmente atrativo para a maior parte das pessoas,  tratava de conceitos que envolviam pequena ou nenhuma abstração, o que certamente constituiu-se em um diferencial para que o interesse, o envolvimento e a compreensão dos visitantes fossem mobilizados. Nesse sentido, os recursos utilizados mostraram-se perfeitamente adequados para comunicar o que deveriam e, ao mesmo tempo, conquistar o interesse dos visitantes. Diante disso, entendemos haver a necessidade de novos estudos que, no âmbito do Projeto “Ciência na Praça”, avaliem a adequação de recursos destinados ao trabalho com conceitos mais abstratos.

 

REFERÊNCIAS

ALVES, F. O que fazem os alunos com necessidades especiais no Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva? In: III Encontro de Educação em Ciências – A Educação Científica de Alunos com Necessidades Educativas Especiais, 2009, Águeda. Actas do III Encontro de Educação em Ciências. Aveiro: Universidade de Aveiro, 2009, p. 67-70.

 

CALDEIRA, M.H. et al. Actividades interactivas de Ciência para alunos com necessidades educativas especiais – um estudo no Exploratório Infante D. Henrique. In: III Encontro de Educação em Ciências – A Educação Científica de Alunos com Necessidades Educativas Especiais, 2009, Águeda. Actas do III Encontro de Educação em Ciências. Aveiro: Universidade de Aveiro, 2009, p. 55-66.

 

RAMEY-GASSERT, L.; WALBERG III, H. J.; WALBERG, H. J. Reexamining Connections: Museums as Science Learning Environments. Science Education, v.78, n.4, p. 345- 363, 1994.

 

SAMPIERI, B.R.; AMARAL, M.L.R.; CARVALHO, W. O saber acadêmico foi às ruas. E os visitantes, o que aprenderam? In: Congresso Nacional de Iniciação Científica CONIC-SEMESP, 9,  2009, São Paulo. Anais do 9o Congresso. São Paulo: CONIC –SEMESP, 2009,  p. 1-11.

 

THIER, H. D.; LINN, M. C. The value of interactive experiences. Curator, v.19, n.3, p. 233-245, 1976.

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