Quem sou eu

Belo Horizonte
O "Colóquio Internacional: Tendências contemporâneas da comunicação científica: desafios e perspectivas" foi promovido pela Diretoria de Divulgação Científica, orgão da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram debatidos os principais desafios da comunicação científica contemporânea tanto em ambientes corporativos quanto em redes entre países da América do Sul.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

SOBRE A HISTÓRIA E O CONCEITO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA


SOBRE A HISTÓRIA E O CONCEITO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

MARTINS, Suelen[1]

COURA-SOBRINHO, Jerônimo[2]

BOTELHO, Juliana Santos[3]

 

INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

A divulgação da ciência é um processo pelo qual informações e conceitos científicos e/ou tecnológicos, antes restritos à comunidade científica, são repassados para o público geral. Com o avanço da Modernidade, a divulgação vem ganhando espaço em diversas mídias, como rádio, televisão, jornais e internet, fazendo com que os públicos sejam cada vez mais confrontados com os resultados apresentados das pesquisas científicas.

Com isso, o estudo sobre a divulgação científica tem envolvido campos do saber como a Ciência da Informação, a Comunicação Social, ou a Análise do Discurso.  Nosso objetivo é traçar, a partir das contribuições de trabalhos publicados sobre divulgação científica, um breve panorama da história do gênero no Brasil e no mundo, pontuando distinções conceituais que os distintos campos adotam em termos de divulgação, difusão e comunicação científica. 

Nosso pressuposto é o de que, por trás de cada definição conceitual, subsiste uma série de expectativas normativas mais ou menos explicitamente assumidas daquilo que deve e pode ser considerado, do ponto de vista empírico, como uma matéria jornalística de “divulgação científica”.

METODOLOGIA: Revisão de literatura.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Muito ainda se pergunta: o que vem a ser a divulgação científica?

Em seu artigo Dialogismo e divulgação científica, Authier-Revuz (1999) concebe a divulgação científica enquanto “gênero” próprio, isto é, enquanto forma particular das práticas de reformulação e como resultado dos discursos científico e pedagógico.Em seus estudos, a autora francesa, baseia-se na categoria de heterogeneidade constitutiva ou mostrada e marcada para pensar as particularidades do gênero da divulgação científica, cunhada a partir das noções de dialogismo de Bakhtin e dos pressupostos teóricos de Lacan.

No campo da Comunicação Social, Zamboni (2001) contesta parcialmente os pressupostos teóricos de Authier-Revuz (1999), particularmente no tocante ao fato de o discurso de divulgação científica constituir, para esta última, uma prática de reformulação discursiva. Partindo também dos pressupostos teóricos de Bakhtin sobre dialogismo e gênero, Zamboni concebe a divulgação científica como um discurso autônomo e próprio no conjunto dos demais discursos das diferentes áreas de funcionamento da linguagem. Para Zamboni, a “divulgação científica” constitui um discurso próprio, dentre vários fatores, por centrar-se nos temas “ciência e tecnologia” e por tentar deslocar esses assuntos do seu campo de destinação precípuo para difundi-los aos estratos mais leigos da sociedade. No âmbito da reflexão de Zamboni, a divulgação científica não é tratada como uma prática aproximativa, como nos estudos de Authier-Revuz (1999). 

Também no campo da Comunicação Social, Silva (2006) afirma que a divulgação científica compreende um conjunto grande de textualizações do conhecimento científico, resultantes de uma multiplicidade complexa de relações interlocutivas, como as reportagens da revista Veja, os textos das revistas Ciência Hoje e Superinteressante ou o testemunho de um cientista. O autor avança em sua discussão para afirmar que a associação entre divulgação e disseminação científica serve para atualizar o imaginário de que a divulgação científica é uma atividade unidirecional, produto da interlocução exclusiva entre cientista (ou jornalista) e o não-especialista. Ainda de acordo com Silva (2006, p. 58), “esta reformulação não dá conta de que a divulgação também está envolvida na interlocução cientista-cientista”.

Ainda no campo da Comunicação Social, o discurso de divulgação científica pode ser entendido também como fusão de dois discursos, o científico e o jornalístico, constituindo assim um gênero multidisciplinar ou multifacetado. Maria das Graças Targino (2007) parte dessa intersecção para conceber que o jornalismo como atividade profissional de natureza social, que se destina a elaborar e divulgar notícias em suportes variados - impressos, televisivos, radiofônicos e virtuais - não podendo evidentemente ficar à margem da divulgação da ciência. Diferentemente do que afirma Authier-Revuz, Targino (2007) aposta em uma autonomia do discurso divulgativo por acreditar que este possui características bem distintas dos demais discursos resultantes de reformulação discursiva.

Já Cataldi (2007) tem como proposta considerar,  no âmbito da Análise do Discurso, a prática de Divulgação Científica como recontextualização do saber científico. Cataldi coloca em destaque a ciência como notícia e considera o texto jornalístico como relevante para fazer o público entender as implicações do conhecimento científico na vida cotidiana. A autora também discute como a prática de fazer textos de divulgação científica é específica e lida com informações e conceitos técnicos especializados, que devem ser trabalhados de tal forma a tornar públicas as descobertas da área de ciência e tecnologia para o leigo nesses assuntos.

Finalmente, Valerio e Pinheiro (2008), pesquisadoras na área de Ciência da Informação, possuem um olhar diferente da divulgação científica e vêem na internet um ponto-chave para a aproximação entre a comunicação e a divulgação científica. As autoras partem da argumentação de que as informações científicas disponibilizadas eletronicamente podem vir a desempenhar novo papel. As estudiosas supõem haver uma aproximação, ou mesmo uma convergência de públicos, acadêmico e não acadêmico, em relação à literatura científica publicada eletronicamente, o que gera uma nova audiência para a ciência.

 

CONCLUSÕES

De maneira bastante esquemática, podemos concluir que existe um grande debate sobre a especificidade da divulgação científica enquanto prática discursiva distinta de outras próprias da ciência e/ou do jornalismo. Não existe, contudo, consenso nem mesmo dentro dos estudos de uma mesma matriz teórica. Dentro do campo da análise do discurso, por exemplo, Authier-Revuz vê na divulgação científica um segundo discurso resultante dos discursos científicos e pedagógicos, já Cataldi defende que a divulgação científica mobiliza um saber jornalístico especializado. No campo da Comunicação Social, por sua vez, Zamboni ressalta a autonomia da divulgação científica em relação ao saber científico, visto que os temas são deslocados de sua destinação precípua, enquanto Targino aposta na divulgação científica enquanto fusão dos discursos científico e jornalístico.

O que é importante ressaltar, contudo, é que esses diversos autores, de maneira mais ou menos explícita, lançam mão de modelos normativos sobre os discursos científico, jornalístico e leigo. Cada qual coloca sua ênfase em um dos polos da relação – cientista, leigo, jornalista – redesenhando fronteiras entre diversas práticas discursivas e entendimentos específicos de como esta relação acontece, de fato, no mundo real.

Isto posto, nosso trabalho é composto de duas partes. Na primeira, examinamos cada uma das proposições teóricas sobre a divulgação, elucidando os modelos discursivos nos quais elas se apoiam. Em um segundo momento, discutimos como as reflexões mais recentes sobre espaço público e o campo dos meios de comunicação podem auxiliar em um entendimento renovado da divulgação científica, principalmente no que refere a experiências deliberativas públicas de longo prazo.

 

REFERÊNCIAS

AUTHIER- REVUZ, Jacqueline. Dialogismo e divulgação científica.  Revista Rua, Campinas, n.5, p. 9-15, mar. 1999.

BOHMAN, James. O que é deliberação pública? Uma abordagem dialógica. In: MARQUES, Angela. A deliberação pública e suas dimensões sociais, políticas e comunicativas. Belo Horizonte. Editora Autêntica, 2009, pp. 58-84.

CATALDI, Cristiane. A divulgação da ciência na mídia impressa: um enfoque discursivo. In.: GOMES, Maria Carmen Aires et al (org.). Gênero discursivo, mídia e identidade. Viçosa: Ed. UFV, 2007, p. 155-164.

CHAMBERS, Simone. A teoria democrática deliberativa. In: MARQUES, Angela. A deliberação pública e suas dimensões sociais,políticas e comunicativas. Belo Horizonte. Editora Autêntica, 2009. PP:239-267.

MOREIRA, Ildeu de Castro; MASSARANI, Luisa. Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil. In.: MASSARANI, Luisa et al (org.). Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência – Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fórum de Ciência e Cultura, 2002, p. 65-73. 

OLIVEIRA, Fabíola de. Jornalismo científico. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010. 

SILVA, Henrique César. O que é divulgação científica?. Ciência & Ensino, v. 1, p. 53-59, 2006.

TARGINO, Maria da Graça. Divulgação científica e discurso. Revista Comunicação & Inovação. São Caetano do Sul, v. 8, n. 15: (19-28) jul-dez 2007.

VALERIO, Palmira Maria Caminha Moriconi; PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. Da comunicação científica à divulgação. Transinformação, v. 20, p. 159-169, 2008.

 



[1] Mestranda em Estudo de Linguagens (CEFET-MG). Especialista em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MINAS). Graduada em Letras- Português/Inglês pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). E-mail: suelen-martins@ibest.com.br.
 
[2] Doutor em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Professor do Departamento de Linguagem e Tecnologia do CEFET-MG. E-mail: jeronimocoura@gmail.com.
 
[3] Pós–doutora e Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutora em Comunicação pela Université du Québec à Montréal (UQAM). Professora do Centro Universitário de Sete Lagoas (UNIFEMM). E-mail: julianasbotelho@hotmail.com.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário