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O "Colóquio Internacional: Tendências contemporâneas da comunicação científica: desafios e perspectivas" foi promovido pela Diretoria de Divulgação Científica, orgão da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram debatidos os principais desafios da comunicação científica contemporânea tanto em ambientes corporativos quanto em redes entre países da América do Sul.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

PERCEPÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA ENTRE OS JOVENS ESTUDANTES DO RECÔNCAVO DA BAHIA


 PERCEPÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA ENTRE OS JOVENS ESTUDANTES DO RECÔNCAVO DA BAHIA

Maria de Fátima Ferreira

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia -  UFRB

Email: mafafe@hotmail.com

 

INTRODUÇÃO:

            O objetivo desse texto é refletir sobre alguns resultados da pesquisa quantitativa sobre percepção pública da ciência e tecnologia entre estudantes do último ano de ensino médio e universitários na cidade de Cachoeira/BA, realizada em 2010. O enfoque da apresentação de dados e análise é sobre o desconhecimento dos jovens entrevistados sobre ciência e os cientistas/pesquisadores e a forma como têm acessado informação sobre ciência e tecnologia.

            A cidade de Cachoeira esta situada na Baía de Todos os Santos, às margens do Rio Paraguaçu, no Recôncavo da Bahia, tem uma população total de 33.495, é considerada “Cidade Monumento Nacional” e reúne um importante acervo arquitetônico do estilo barroco. A partir de 2006 começou a funcionar um campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, o Centro de Artes Humanidades e Letras – CAHL, o que acenou com a possibilidade de desenvolvimento e revitalização da cidade.

            No Estado da Bahia além da UFRB, existe outra universidade federal  a  Universidade Federal da Bahia - UFBa, com sede em Salvador. As duas são grandes produtoras de ciência e tecnologia e juntas têm um papel fundamental na produção e divulgação do conhecimento científico e tecnológico. Como também devem “trabalhar para que todos os membros da nossa sociedade passem a ter uma melhor compreensão, não só os resultados da pesquisa científica, mas da própria natureza da atividade científica. A perspectiva mais distante, ainda que neste momento possa parecer utópica, é mudar a ciência de forma que ela possa finalmente diluir-se na democracia.” (LEBLOND, 2006:43).

            No Brasil, as três pesquisas nacionais sobre Percepção pública da ciência mostram que o interesse declarado por Ciência e Tecnologia em geral é contínuo e crescente: 20% em 1987, 41% em 2006 e 65% em 2010 (MCT, 1987, 2006, 2010). Por outro lado, as mesmas pesquisas mostram que os entrevistados não conhecem os cientistas brasileiros e que esse desconhecimento é crescente: 67% em 1987; 86% em 2006; 87,6% em 2010. Nenhuma cientista ou cientista social foi lembrada entre @s cientistas mais citados. As pesquisas também mostram que os entrevistados se informam sobre C&T, sobretudo, pela televisão 62% em 2006, 71% em 2010, como também pelos jornais: 44% em 2006, 51% em 2010. A internet aparece com as seguintes porcentagens 23% em 2006 e 34% em 2010.

 

METODOLOGIA:

            Os dados apresentados fazem parte de uma pesquisa maior cujo objetivo é pesquisar a percepção pública da ciência e tecnologia com jovens estudantes, em três cidades do Recôncavo da Bahia (Cachoeira, Cruz das Almas, Santo Antonio de Jesus), através de pesquisa quantitativa e qualitativa. A pesquisa quantitativa será abortada através de quatro eixos: 1) Imaginário social sobre a ciência e a tecnologia; 2) Compreensão de conteúdos de conhecimento científico; 3) Processos de comunicação da ciência; 4) perfil sócio-econômico. Para isso foi construído um questionário com 58 perguntas, fechadas e abertas. Na fase Cachoeira da pesquisa o questionário foi aplicado em uma amostra de 133 alunos do último ano do ensino médio de duas escolas estaduais,  Colégio Estadual de Cachoeira e Colégio Antonio Joaquim Correia e alunos do Centro de Artes, Humanidades e Letras – Cahl, da  Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Posteriormente, foi criado um banco de dados a partir do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 11.0 e com as informações foram elaboradas tabelas e gráficos para serem analisados, a partir das teorias de percepção pública da ciência, teorias das relações de gênero e do jornalismo científico. Para esse texto destacamos algumas informações sobre a pesquisa em Cachoeira/Ba, que serão apresentadas a seguir.

 

RESULTADOS:

Perfil Sócio-Econômico:

            Os jovens estudantes do último ano de ensino médio (47%) e universitários (53%) entrevistados em Cachoeira/Ba, pela Pesquisa Percepção Pública da Ciência & Tecnologia, em 2010 declararam que 78% estavam entre 17 a 24 anos; 48% são do gênero feminino e 49% masculino; 75% são negros e 75% têm rendimento familiar de até três salários mínimos.

 

Imaginário Social sobre Ciência e Tecnologia:

            Os jovens estudantes de Cachoeira, 78%, compreendem a ciência positivamente, expressa na ideia de grandes descobertas, avanço técnico, compreensão do mundo natural, melhoria da vida humana e 80% dos entrevistados concordam que “o mundo da ciência não pode ser compreendido pelas pessoas comuns”.  

Os entrevistados descrevem os cientistas como “Pessoas cultas que produzem coisas úteis para a humanidade.”, 44%;  “Pessoas inteligentes que trabalham muito sem almejar serem ricas.”, 20%.  Quanto ao resultado que os cientista obtêm 47% respondeu que são úteis, mas não se difundem.”

Os jovens entrevistados mostraram um grande desconhecimento em relação à ciência e tecnologia e seus cientistas/pesquisadores, tanto do Estado como em geral. A grande maioria desconhece os cientistas/pesquisadores da Bahia, 69%. Apenas  31% respondeu que conhece algum cientista/pesquisad@r baian@. Foram citados mais cientistas homens que mulheres. As cientistas/pesquisadoras mais citadas foram Isabel Cristina Reis (12%)  e Renta Pitombo (12%). Os cientistas homens mais citados foram: Eucimar Coutinho, 27,5%; Milton Santos, 12,5%; João José dos Reis, 10%; Albert Einstein, 7,5%. Ao citar os cientistas baianos os jovens estudantes cometeram alguns equívocos como: alguns cientistas brasileiros ou internacionais foram citados como cientistas baianos; dificuldade em escrever corretamente o nome dos cientistas.

Dentre os jovens entrevistados 43% não conhece nenhum cientista/pesquisador famoso do Brasil e do Mundo, vivo ou morto. O nome de cientista/homem mais citado pelos que conhecem foi Albert Einsten com 38%; as cientistas mais citadas foram Marie Curie (19%), Marilena Chaui  (19%) e Maria de Fátima Ferreira (19%). Dos 76 estudantes universitários que conhecem um cientista apenas 21% citou o nome de uma cientista. Os jovens do último ano do ensino médio não souberam citar o nome de nenhuma  cientista/pesquisadora.

 

Processos de Comunicação Social da Ciência

            Os jovens entrevistados, na sua maioria, se consideram pouco informados sobre C&T, 59% e informado, 29%. Destacamos 4% que estão muito bem informados e 7% que não estão nada informados. Eles se informam sobre C&T para: 1) Para manter-me informado sobre temas importantes, 37%; 2) Para ter bom desempenho na  profissão, na escola ou no trabalho, 23%; 3) Para tomar decisões pessoais e saber como atuar, 16%; 4) Gosto especial por esses temas, 11%; 5) Porque são temas conflituosos para a sociedade, 11%. Eles se informam majoritariamente pela televisão e internet, 83%. Na televisão buscam informação científica, sobretudo, nos Telejornais, 39%; Documentários, 32%; Documentários e Telejornais, 10%; Filmes de Ficção científica, 7%, exibidos pela Rede Bahia/TV Globo, 44%; TV E, 11%; Rede Bahia/TV Globo e TV E, 8%. A internet é acessada em casa por 68% dos que tem computador e ligação com a internet, o restante acessa a internet em lan house,  no Cahl/UFRB, em casa de amigo, parente, vizinho, no trabalho ou pelo celular. O celular também é um meio de acessar a televisão, pois na área rural existe dificuldade com a conexão.

 

CONCLUSÃO

            Os resultados mostram que os jovens estudantes têm interesse pela Ciência e Tecnologia, no entanto ela não está sendo ensinada e divulgada de forma adequada nacional e regionalmente.

            O número de jovens estudantes de Cachoeira que não souberam citar o nome de um cientista/pesquisador foi bem menor que os dados nacionais, apesar da dificuldade em saber sobre a nacionalidade d@ cientista ou escritura do nome, entre os que citaram o nome de cientista. Nacionalmente não aparece entre os mais citados o nome de mulheres cientistas ou cientista social, os jovens em Cachoeira citaram tanto cientistas mulheres, quanto cientista social. Essa diferença entre os dados é reflexo da atuação da universidade na cidade, pois o contato dos jovens estudantes com os professores/pesquisadores da universidade faz com que comecem a mudar seus conhecimentos científicos.

            Também como os dados nacionais, a informação sobre C& T é obtida pela televisão, porém em Cachoeira com taxa mais alta, 83% e diferentemente dos dados nacionais a internet aparece ao lado da televisão como acesso a C&T.   Vale destacar que inexistem programas televisivos sobre ciência e tecnologia nas emissoras locais direcionadas para a juventude da Bahia, mas a Bahia já foi destaque em divulgação científica no Brasil, com a publicação da revista científica Gazeta Médica da Bahia, em 1866, uma das pioneiras. Resgatamos esse passado e criamos um site para divulgação científica, com pequenas experiências em vídeo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Ministério da Ciência e Tecnologia. O que o brasileiro pensa da Ciência e da Tecnologia? Relatório de pesquisa Instituto Gallup, 1987.

____Percepção Pública da Ciência e Tecnologia. Departamento de Popularização e Difusão da C&T. Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social. 2007.

____Percepção Pública da Ciência e Tecnologia. Departamento de Popularização e Difusão da C&T. Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social. 2010

VOGT, C.; POLINO, C. (Orgs.) Percepção Pública da ciência: resultados da pesquisa na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai. Campinas, SP: Ed. Da Unicamp; São Paulo, SP, FAPESP, 2003.

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