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O "Colóquio Internacional: Tendências contemporâneas da comunicação científica: desafios e perspectivas" foi promovido pela Diretoria de Divulgação Científica, orgão da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram debatidos os principais desafios da comunicação científica contemporânea tanto em ambientes corporativos quanto em redes entre países da América do Sul.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O processo de produção de recursos tecnológicos interativos pelos mediadores do Museu de Biodiversidade do Cerrado


O processo de produção de recursos tecnológicos interativos pelos mediadores do Museu de Biodiversidade do Cerrado

FARIA, Talita Martins1; BATISTA, Jaqueline Eterna2; JACOBUCCI, Daniela Franco Carvalho3;  NOGUEIRA-FERREIRA, Fernanda Helena3

1. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia

2. Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia

3. Professora adjunta do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Uberlândia


Introdução

Museus são espaços que possuem um caráter educacional vinculado à sua própria origem, uma vez que, desde o início, se configuravam como espaços de pesquisa e ensino, oferecendo acesso a novas linguagens, tecnologias, conhecimentos e valores, estimulando a curiosidade dos visitantes (FALCÃO, 2009, p. 14). Desta forma, é importante que sejam desenvolvidas nestas instituições atividades de cunho educativo que estimulem os visitantes a explorar o que museu tem para oferecer.

Segundo Gruzman & Siqueira (2007, p. 2) inicialmente os museus de ciência se apresentavam como locais de acondicionamento de objetos. Sua articulação com a sociedade vai se intensificando a partir de uma preocupação com a educação. Hoje, conforme afirmam Pavão & Leitão (2007, p. 40) existem centros e museus de ciência, onde a interatividade é palavra de ordem, permitindo ao visitante uma percepção mais próxima possível da realidade científica, através da relação direta com os aparatos do museu.

Diante desse contexto, o Museu de Biodiversidade do Cerrado (MBC), situado em Uberlândia-MG, vem sofrendo diversas adaptações objetivando se inserir nessa nova realidade para melhor atender seu público. Dentre as mudanças que vem acontecendo no MBC, está a inserção de recursos tecnológicos interativos, com o objetivo de disponibilizar informações sobre o acervo do Museu de forma dinâmica.

O presente estudo objetiva relatar a experiência da elaboração de alguns destes recursos, que foram criados pelos próprios mediadores do MBC, ressaltando as dificuldades encontradas na confecção destes instrumentos e a contribuição deste processo para os mediadores e para o Museu.

Desenvolvimento

A partir dessa nova proposta do MBC, os coordenadores dos projetos desenvolvidos no Museu em conjunto com os mediadores deste espaço idealizaram um recurso que possuísse informações relevantes e interessantes sobre a biologia, ecologia e preservação dos animais da exposição.

Na fase inicial de desenvolvimento deste recurso, os mediadores foram em busca de informações e imagens destes representantes da fauna do Cerrado em sites e livros de Ensino Superior, atentando principalmente para a adaptação da linguagem, uma vez que espaços de educação não formal atendem a um público muito diverso (FALK & ADELMAN, 2003 apud LINDEMANN-MATTHIES, KAMER, 2005, p.2).

Foram encontrados aspectos que dificultaram a elaboração do recurso, como, por exemplo, a adaptação das informações para uma forma compreensível ao público leigo o que provavelmente aconteceu devido à aquisição de um vocábulo científico característico da formação acadêmica, do qual é difícil se desvincular. Segundo Dornan (apud OLIVEIRA, 2005, p. 43) o problema da transposição didática na divulgação da ciência está ligado “às dificuldades de transmitir teorias científicas, numa linguagem acessível ao público leigo, sem que tal conhecimento seja ‘corrompido’”. Diante dessa dificuldade, as coordenadoras do projeto por meio de apontamentos e sugestões de alterações auxiliaram os mediadores, para que o material adquirisse a essência e linguagem de um instrumento de divulgação científica.

Em seguida, este material de pesquisa foi editado utilizando o programa power-point, e transformado em uma “apostila digital interativa”, que conta com: uma página inicial, na qual o visitante pode ter acesso a diferentes grupos animais (insetos, peixes, répteis, anfíbios, mamíferos e aves). Ao clicar em um grupo, o visitante será direcionado para outra página, na qual há fotos de cada espécie, com seus respectivos nomes populares. Clicando na foto do animal de seu interesse, o visitante terá acesso a uma página com informações gerais sobre essa espécie (hábitos, alimentação, reprodução etc.), ainda nesta página, há o link “Onde é encontrado?” o qual quando selecionado direciona o visitante a uma página com o mapa mundi, indicando a(s) região(ões) em que o animal ocorre.

O material foi elaborado de forma a permitir que os visitantes tenham a liberdade de escolher as informações a serem acessadas, por meio de hiperlinks. Em função de não haver disciplinas voltadas ao uso desse tipo de programa na produção de recursos didáticos digitais na graduação, os mediadores precisaram buscar informações por si mesmos para elaborar o recurso, uma vez que estes não tinham familiaridade com essa abordagem usando  hiperlinks.

Estas dificuldades técnicas evidenciam a necessidade de se preparar os mediadores para utilizarem instrumentos tecnológicos na produção de recursos para o museu. Conforme afirma Ribeiro (2004), a formação dos mediadores precisa suprir as “múltiplas exigências de seu papel”, levando em consideração “(...) o desenvolvimento de habilidades que vão instrumentar sua ação (...)” Dessa forma, percebe-se que o papel dos mediadores exige destes preparo tanto para receber os visitantes, como para elaborar atividades e recursos, no entanto, esta última ainda é um tanto deficiente, especialmente no que se refere a produção de recursos tecnológicos midiáticos e interativos.

Os mediadores, enquanto biólogos em formação, não têm na grade curricular do curso nenhuma disciplina que aborde tópicos voltados para tecnologias e recursos digitais e sua aplicação na Educação e no ensino de Ciências e Biologia. É possível perceber então, que essa deficiência se apresenta desde base da formação destes profissionais.

Apesar das dificuldades encontradas nesse processo de construção, os objetivos da proposta de confecção deste aparato foi alcançado, na medida em que o recurso permite que os visitantes interajam com as informações trazidas pelas apostilas e lhes dá a oportunidade de escolher as informações que deseja acessar.

Com a aquisição desta experiência, foi elaborado outro recurso usando os mesmos princípios (hiperlinks em power point). Este material conta com fotos sombreadas de algumas aves do Cerrado, e ao clicar em uma destas imagens, o visitante tem a opção de ouvir o canto do animal para tentar descobrir qual é a ave em questão. Há também a possibilidade de visualizar a imagem sem sombreamento e com os nomes científico e popular da espécie, para verificar a resposta correta.

Estes materiais foram incorporados à exposição do MBC, e se encontram à disposição dos visitantes que, agora podem conhecer melhor o acervo do museu de uma forma diferenciada. A existência de recursos dessa natureza em espaços de educação não formal é importante, pois estas atividades permitem que o visitante, não fique preso ao percurso pré-definido da exposição, observando-a de forma passiva, numa relação causa-efeito, mas sim, numa interação ativa e interventiva (AVEIRO, 2008).

Com a inserção destes recursos no Museu, a proposta de mediação também foi alterada, se anteriormente os mediadores guiavam os visitantes pelo percurso da exposição e passando-lhes as informações, agora eles têm outras fontes às quais podem recorrer para se informar sobre o acervo do MBC. Os mediadores continuam presentes no museu, mas agora não são os “detentores de todas as informações” sobre o acervo, mas, como destacado por Wagensberg (2008), eles conhecem detalhes e fornecem as chaves para a compreensão dos conceitos trabalhados no museu, atuando como um complemento às informações disponibilizadas nos recursos digitais.

Conclusão

Essa trajetória permitiu que os mediadores do MBC adquirissem experiência com a elaboração de recursos tecnológicos-midiáticos interativos e incorporou recursos ao acervo do MBC que tornam a exposição interativa e dinâmica. Por outro lado, os resultados desta experiência também ressaltam que existe uma deficiência na formação destes mediadores, que está vinculada ao curso de graduação no qual estão inseridos. Além disso, faz-se necessário o desenvolvimento de outros estudos para verificar a reação dos visitantes frente a estes materiais, para que estes recursos sejam constantemente aprimorados.

Referência bibliográfica

AVEIRO, Carla Filipa Franco Teixeira. O multimédia como mediador de recursos educativos e culturais em núcleos museológicos núcleo museológico de machico – solar do ribeirinho. 2008. 127p. Dissertação (Mestrado em Arte e Património: no Contemporâneo e Actual) - Departamento de Arte e Design da Universidade da Madeira, Universidade da Madeira, Funchal.

FALCÃO, Andréa. Museu como um lugar de memória. Museu e escola: educação formal e não-formal. v. 19, n. 3, p. 10-21, 2009.

GRUZMAN, Carla; SIQUEIRA, Vera Helena F. de. O papel educacional do Museu de Ciências: desafios e transformações conceituais. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v. 6, n. 2, p. 402-423. 2007.

LINDEMANN-MATTHIES, PETRA; KAMER, TOBIAS. The Influence of an Interactive Educational Approach on Visitors’ Learning in a Swiss Zoo. Wiley InterScience, Zurich, p. 296-315, jun. 2005.

OLIVEIRA, Janaína Minelli de. As vozes da ciência: a representação do discurso nos gêneros artigo acadêmico e de divulgação científica. 2005. 250p. Tese (Doutorado em Lingüística Aplicada) – Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

RIBEIRO, Maria das Graças. A experiência dos Museu de Ciências Morfológicas: Museus de ciências e inclusão social. In: III Workshop Vitae/Bristish Council – gestão e administração em centros e museus de ciências. Anais. São Paulo, 2004. p. 66-72.

WAGENSBERG, Jorge. Museu pra criança ver (e sentir, tocar, ouvir, cheirar e conversar): Jorge Wagensberg: depoimento [setembro, 2008]. Rio de Janeiro: Ciência e criança: a divulgação científica para o público infanto-juvenil. Entrevista concedida a Marina Ramalho.

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