O processo de produção de recursos tecnológicos
interativos pelos mediadores do Museu de Biodiversidade do Cerrado
FARIA, Talita Martins1;
BATISTA, Jaqueline Eterna2; JACOBUCCI, Daniela Franco
Carvalho3; NOGUEIRA-FERREIRA, Fernanda Helena3
1. Mestranda do
Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia
2. Graduanda em
Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia
3. Professora adjunta
do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Uberlândia
talitamartins_bio@yahoo.com
/ eternabatista@yahoo.com.br / danielafcj@inbio.ufu.br / ferferre@inbio.ufu.br
Introdução
Museus são espaços que possuem um caráter
educacional vinculado à sua própria origem, uma vez que, desde o início, se
configuravam como espaços de pesquisa e ensino, oferecendo acesso a novas
linguagens, tecnologias, conhecimentos e valores, estimulando a curiosidade dos
visitantes (FALCÃO, 2009, p. 14). Desta forma, é importante que sejam
desenvolvidas nestas instituições atividades de cunho educativo que estimulem
os visitantes a explorar o que museu tem para oferecer.
Segundo Gruzman
& Siqueira (2007, p. 2) inicialmente os museus de ciência se
apresentavam como locais de acondicionamento de objetos. Sua articulação com a
sociedade vai se intensificando a partir de uma preocupação com a educação.
Hoje, conforme afirmam Pavão & Leitão (2007, p. 40) existem centros e
museus de ciência, onde a interatividade é palavra de ordem, permitindo ao
visitante uma percepção mais próxima possível da realidade científica, através
da relação direta com os aparatos do museu.
Diante desse contexto, o Museu de Biodiversidade
do Cerrado (MBC), situado em Uberlândia-MG, vem sofrendo diversas adaptações
objetivando se inserir nessa nova realidade para melhor atender seu público. Dentre
as mudanças que vem acontecendo no MBC, está a inserção de recursos
tecnológicos interativos, com o objetivo de disponibilizar informações sobre o
acervo do Museu de forma dinâmica.
O presente estudo objetiva relatar a experiência
da elaboração de alguns destes recursos, que foram criados pelos próprios
mediadores do MBC, ressaltando as dificuldades encontradas na confecção destes
instrumentos e a contribuição deste processo para os mediadores e para o Museu.
Desenvolvimento
A partir dessa nova proposta do MBC, os
coordenadores dos projetos desenvolvidos no Museu em conjunto com os mediadores
deste espaço idealizaram um recurso que possuísse informações relevantes e
interessantes sobre a biologia, ecologia e preservação dos animais da
exposição.
Na fase inicial de desenvolvimento deste recurso,
os mediadores foram em busca de informações e imagens destes representantes da
fauna do Cerrado em sites e livros de Ensino Superior, atentando principalmente
para a adaptação da linguagem, uma vez que espaços de educação não formal
atendem a um público muito diverso (FALK & ADELMAN, 2003 apud LINDEMANN-MATTHIES, KAMER, 2005,
p.2).
Foram
encontrados aspectos que dificultaram a elaboração do recurso, como, por
exemplo, a adaptação das informações para uma forma compreensível ao público
leigo o que provavelmente aconteceu devido à
aquisição de um vocábulo científico característico da formação acadêmica, do
qual é difícil se desvincular. Segundo Dornan (apud OLIVEIRA, 2005, p. 43) o problema da transposição didática na
divulgação da ciência está ligado “às dificuldades de transmitir teorias
científicas, numa linguagem acessível ao público leigo, sem que tal
conhecimento seja ‘corrompido’”. Diante dessa dificuldade, as coordenadoras do
projeto por meio de apontamentos e sugestões de alterações auxiliaram os
mediadores, para que o material adquirisse a essência e linguagem de um
instrumento de divulgação científica.
Em seguida, este material de pesquisa foi editado
utilizando o programa power-point, e
transformado em uma “apostila digital interativa”, que conta com: uma página
inicial, na qual o visitante pode ter acesso a diferentes grupos animais
(insetos, peixes, répteis, anfíbios, mamíferos e aves). Ao clicar em um grupo,
o visitante será direcionado para outra página, na qual há fotos de cada espécie,
com seus respectivos nomes populares. Clicando na foto do animal de seu
interesse, o visitante terá acesso a uma página com informações gerais sobre
essa espécie (hábitos, alimentação, reprodução etc.), ainda nesta página, há o link “Onde é encontrado?” o qual quando selecionado
direciona o visitante a uma página com o mapa mundi, indicando a(s) região(ões)
em que o animal ocorre.
O material foi elaborado de forma a permitir que os
visitantes tenham a liberdade de escolher as informações a serem acessadas, por
meio de hiperlinks. Em função de não
haver disciplinas voltadas ao uso desse tipo de programa na produção de
recursos didáticos digitais na graduação, os mediadores precisaram buscar
informações por si mesmos para elaborar o recurso, uma vez que estes não tinham
familiaridade com essa abordagem usando hiperlinks.
Estas dificuldades técnicas evidenciam a
necessidade de se preparar os mediadores para utilizarem instrumentos
tecnológicos na produção de recursos para o museu. Conforme afirma Ribeiro
(2004), a formação dos mediadores precisa suprir as “múltiplas exigências de
seu papel”, levando em consideração “(...) o desenvolvimento de habilidades que
vão instrumentar sua ação (...)” Dessa forma, percebe-se que o papel dos
mediadores exige destes preparo tanto para receber os visitantes, como para
elaborar atividades e recursos, no entanto, esta última ainda é um tanto
deficiente, especialmente no que se refere a produção de recursos tecnológicos
midiáticos e interativos.
Os mediadores, enquanto biólogos em formação, não
têm na grade curricular do curso nenhuma disciplina que aborde tópicos voltados
para tecnologias e recursos digitais e sua aplicação na Educação e no ensino de
Ciências e Biologia. É possível perceber então, que essa deficiência se
apresenta desde base da formação destes profissionais.
Apesar das dificuldades encontradas nesse
processo de construção, os objetivos da proposta de confecção deste aparato foi
alcançado, na medida em que o recurso permite que os visitantes interajam com
as informações trazidas pelas apostilas e lhes dá a oportunidade de escolher as
informações que deseja acessar.
Com a aquisição desta experiência, foi elaborado
outro recurso usando os mesmos princípios (hiperlinks
em power point). Este material conta com fotos sombreadas de algumas aves
do Cerrado, e ao clicar em uma destas imagens, o visitante tem a opção de ouvir
o canto do animal para tentar descobrir qual é a ave em questão. Há também a
possibilidade de visualizar a imagem sem sombreamento e com os nomes científico
e popular da espécie, para verificar a resposta correta.
Estes materiais foram incorporados à exposição do
MBC, e se encontram à disposição dos visitantes que, agora podem conhecer
melhor o acervo do museu de uma forma diferenciada. A existência de recursos
dessa natureza em espaços de educação não formal é importante, pois estas atividades
permitem que o visitante, não fique preso ao percurso pré-definido da
exposição, observando-a de forma passiva, numa relação causa-efeito, mas sim,
numa interação ativa e interventiva (AVEIRO, 2008).
Com a inserção destes recursos no Museu, a
proposta de mediação também foi alterada, se anteriormente os mediadores
guiavam os visitantes pelo percurso da exposição e passando-lhes as
informações, agora eles têm outras fontes às quais podem recorrer para se
informar sobre o acervo do MBC. Os mediadores continuam presentes no museu, mas
agora não são os “detentores de todas as informações” sobre o acervo, mas, como
destacado por Wagensberg (2008), eles
conhecem detalhes e fornecem as chaves para a compreensão dos conceitos
trabalhados no museu, atuando como um complemento às informações
disponibilizadas nos recursos digitais.
Conclusão
Essa trajetória permitiu que os mediadores do MBC
adquirissem experiência com a elaboração de recursos tecnológicos-midiáticos
interativos e incorporou recursos ao acervo do MBC que tornam a exposição
interativa e dinâmica. Por outro lado, os resultados desta experiência também
ressaltam que existe uma deficiência na formação destes mediadores, que está
vinculada ao curso de graduação no qual estão inseridos. Além disso, faz-se
necessário o desenvolvimento de outros estudos para verificar a reação dos
visitantes frente a estes materiais, para que estes recursos sejam
constantemente aprimorados.
Referência bibliográfica
AVEIRO, Carla Filipa Franco Teixeira. O multimédia como mediador de
recursos educativos e culturais em núcleos museológicos núcleo museológico de
machico – solar do ribeirinho. 2008. 127p. Dissertação (Mestrado em Arte e
Património: no Contemporâneo e Actual) - Departamento de Arte e Design da
Universidade da Madeira, Universidade da Madeira, Funchal.
FALCÃO, Andréa. Museu
como um lugar de memória. Museu e escola:
educação formal e não-formal. v. 19, n. 3, p. 10-21, 2009.
GRUZMAN, Carla; SIQUEIRA, Vera Helena F. de. O papel educacional
do Museu de Ciências: desafios e transformações conceituais. Revista
Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v. 6, n. 2, p. 402-423. 2007.
LINDEMANN-MATTHIES,
PETRA; KAMER, TOBIAS. The Influence of an Interactive Educational Approach on
Visitors’ Learning in a Swiss Zoo. Wiley InterScience, Zurich, p. 296-315,
jun. 2005.
OLIVEIRA, Janaína
Minelli de. As vozes da ciência: a representação do discurso nos gêneros
artigo acadêmico e de divulgação científica. 2005. 250p. Tese (Doutorado
em Lingüística Aplicada) – Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
RIBEIRO, Maria das Graças.
A experiência dos Museu de Ciências Morfológicas: Museus de ciências e inclusão
social. In: III Workshop Vitae/Bristish Council – gestão e administração em
centros e museus de ciências. Anais. São Paulo, 2004. p. 66-72.
WAGENSBERG, Jorge.
Museu pra criança ver (e sentir, tocar, ouvir, cheirar e conversar): Jorge
Wagensberg: depoimento [setembro, 2008]. Rio de Janeiro: Ciência e criança: a
divulgação científica para o público infanto-juvenil. Entrevista concedida a
Marina Ramalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário