O
POTENCIAL DO PROJETO DE MODERNIZAÇÃO DO MUSEU DE BIODIVERSIDADE DO CERRADO:
AMPLIANDO OS ESPAÇOS FORMATIVOS
Gustavo Lopes
Ferreira
(Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado-
gustavolofer@gmail.com)
Helena Morais
Pacheco
(Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado - hg099@hotmail.com)
Luiz Paulo Costa
e Silva
(Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado - luizpaulo108@hotmail.com)
Daniela Franco
Carvalho Jacobucci
(Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado - danielafcj@gmail.com)
Fernanda Helena
Nogueira Ferreira (Universidade
Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado - fernandahelenanogueiraf@gmail.com)
Apresentação
O presente texto
baseia-se em vivências de bolsistas integrantes do projeto de modernização do
Museu de Biodiversidade do Cerrado (MBC). Na tentativa de tecer reflexões
acerca da formação acadêmica em Ciências Biológicas desses participantes, e
compreender a sua contribuição, e por vezes, as limitações para atuarem em
espaço não formal de educação, no caso em museu de ciências.
O
MBC é voltado à popularização do conhecimento científico acumulado sobre temas
do Cerrado, localiza-se na cidade de Uberlândia-MG, contava desde 2002 com uma
exposição permanente formada basicamente por animais taxidermizados
representativos do bioma acondicionados em vitrines. Certas características
museográficas estavam presentes em sua exposição que como propõe Davallon
(1986) apud Chelini e Lopes (2008)
permitiam o mero encontro do visitante com objetos, em que a “prioridade é ver,
contemplar, estar em contato” com o que está exposto. É nesta feição expositiva
que se circunscrevia o museu.
Diante
do exposto é que se propôs o projeto “Modernização da Exposição Permanente e
Diversificação das Estratégias de Divulgação Científica do Museu de
Biodiversidade do Cerrado” [1].
Tal proposta buscou inserir uma nova possibilidade de interação do visitante
com a exposição, modificando-se para isto tanto instalações físicas, quanto à
diversificação das propostas de atividades de divulgação científica ao público
em geral.
A diversidade de frente de trabalho da equipe
proponente que conta com professores e alunos do Instituto de Biologia da
Universidade Federal de Uberlândia e técnicos, permite um olhar amplo
para as atividades de democratização do conhecimento científico em articulação
com o conhecimento popular e artístico. Para este texto considerou-se a
formação acadêmica dos bolsistas envolvidos no projeto de modernização do MBC,
numa tentativa de averiguar como a temática educação em espaços não formais e
divulgação científica se expressaram em suas vivências curriculares na
graduação, e como esta exerceu papel limitador em suas preparações iniciais
para atuarem no Museu de Biodiversidade do Cerrado.
Repensando
a formação acadêmica dos bolsistas
Entende-se que
algumas dificuldades enfrentadas ao longo do projeto de modernização do MBC
estão relacionadas diretamente com a formação inicial dos bolsistas
integrantes. Para proceder à reflexão ante suas formações acadêmicas,
recorreu-se ao Projeto Pedagógico e ementas de algumas disciplinas do curso de
Biologia da Universidade Federal de Uberlândia, em uma tentativa de traçar o
que oficialmente está expresso na estrutura curricular, o que efetivamente foi
realizado e qual o impacto na formação dos estudantes. Toma-se por referência
tal curso de graduação, por ser esta a área básica de formação dos bolsistas
envolvidos.
Pela
leitura do Projeto Político Pedagógico dá-se a entender que o estudante estará
capacitado para atuar em espaços não formais de educação, sendo capaz de
desenvolver seu papel de educador em vários contextos de atuação profissional,
o que inclui os museus de ciências. Nesse mesmo documento, evidencia-se a
estrutura curricular a qual articula-se basicamente em dois núcleos: Específico
e Pedagógico. Revela ainda que as disciplinas do núcleo pedagógico (Projetos
Integrados de Práticas Educativas – PIPE e o Estágio Supervisionado) são responsáveis
por abarcarem os estudos relacionados a espaços extraescolares. Em
contrapartida as ementas de tais disciplinas e a prática cotidiana do currículo
privilegiam as ações voltadas ao contexto escolar, o que conduz ao entendimento
de que é nesse ambiente o espaço privilegiado e até único em que se efetua a prática
pedagógica. Desta maneira, no estudo percebeu-se o que outros trabalhos
relataram, indicando a escassez ou a quase inexistência de uma formação
específica para a área de divulgação científica (Souza, 2008; Ovigli e Freitas,
2009).
O grupo de bolsistas inclui-se nessa formação incipiente,
cujo foco não se encontra nos espaços não formais e na divulgação científica.
Agregando-se a isto, a equipe de trabalho atuante no projeto, não se constituiu
de forma multidisciplinar. Devido à falta de profissionais de diversas áreas e o
desafio inicialmente proposto, os bolsistas buscaram suprir essa demanda
utilizando-se de várias alternativas: conhecimentos empíricos, consulta à
literatura, acesso a sites de outros museus do Brasil e exterior. Além disso, realizaram
visitas a museus locais, nacionais e internacionais para terem uma referência
visual e prática.
Após lidar com todo esse
aprendizado, os bolsistas estão constantemente buscando uma formação diferente
da graduação, pautando-se no trabalho em equipe, como ponto de partida das
ações, entendendo a diversidade de ideias como fecundo momento de criação. Tal
reflexão faz-se presente também no trabalho de Souza (2008).
O
potencial da proposta de modernização do Museu de Biodiversidade do Cerrado
Partindo
das experiências acumuladas na trajetória do projeto de modernização os
bolsistas envolvidos sentiram-se encorajados a prosseguirem atuantes na área de
museus. Com essa vivência puderam ampliar sua formação acadêmica inicial, fato
que os levaram a traçar encaminhamentos futuros, alguns em via de concretização
e outros em amadurecimento, cabe então, apresentá-los ainda que de forma
sucinta.
Dentre
as atividades propostas pelo grupo, a criação do espaço “Espaço Infantil” foi
determinante para despertar novas ideias na bolsista de extensão. Isto se deu
pelo fato de que a mesma trabalha na Educação Infantil, o que intensificou o
seu interesse em seguir com essa linha de atuação. Partindo disso, a participante
tem refletido sobre duas possibilidades de ação futura: propor uma pesquisa de
mestrado no âmbito de uma pós-graduação, lidando com a educação e percepção das
crianças em relação a Ciência ao estar em contato com esse espaço, ou ainda
quem sabe investir em um curso de Pedagogia, um momento em que poderá aliar
seus conhecimentos advindos do trabalho no Museu com a melhoria dos processos
de aprendizagem dos alunos em sala de aula.
Já
o bolsista de iniciação tecnológica industrial, único integrante do grupo ainda
estudante do curso de graduação em Ciências Biológicas, ao contrário dos
demais, teve a oportunidade de vivenciar uma formação acadêmica diferenciada
por conviver, estudar e atuar em um espaço não formal de educação. Auxiliou
diretamente uma estudante do Ensino Médio bolsista de Iniciação Científica
Júnior (PIBIC/Jr) em uma pesquisa sobre o ensino do Cerrado e a divulgação do
mesmo nas escolas do município de Uberlândia-MG. Assim, sua participação nos projetos
de modernização do MBC bem como no de ensino sobre o Bioma Cerrado culminarão
em seu trabalho de monografia, esta em fase de construção.
Nesse mesmo sentido o bolsista de
apoio técnico ao estar imerso nas atividades do museu e diante da ausência de
trabalhos acadêmicos no MBC, propôs um projeto de mestrado ao Programa de
Pós-graduação em Educação (PPGED/FACED/UFU), assim em decorrência de sua
aprovação no processo seletivo 2012, a proposta de trabalho está em fase de
concretização. A pesquisa intitulada “Artefato interativo em museu de ciências:
interface entre criação e pesquisa” veio do desdobramento de suas inquietações
dadas no trabalho cotidiano no MBC e nas leituras sobre museus de ciências.
Tendo em vista a necessidade de dar continuidade à modernização do espaço, a
fim de torná-lo mais adequado a realidade do mundo contemporâneo, o trabalho
propõe por meio da criação de um artefato interativo inserido à exposição
permanente do MBC, verificar sua potencialidade na apropriação do discurso
científico pelos visitantes.
Considerações
Finais
O
texto apresentado propôs-se de forma sucinta abarcar alguns questionamentos
travados no trabalho em um museu de ciências, trazendo no centro do debate a
incipiência com que a educação em museus é tratada na formação inicial de
professores. Muito ainda precisa ser feito no sentido de trazer ao debate
durante a graduação as possibilidades de atuação em tais espaços, não só no
curso de Biologia, mas nas demais áreas científicas. Para isto, é preciso
promover meios de interlocução entre os estudantes e o museu logo no início do
curso, ou mesmo antes, formando alunos da Educação Básica para atuarem como
mediadores. Esta não é uma realidade distante, pois em muitas instituições
existem programas de sucesso com esta natureza.
Não
se busca a prevalência de profissionais formados em áreas afins as Ciências
Naturais como os únicos e necessários aos museus de ciências, pelo contrário,
reivindica-se que haja uma diversidade de áreas, como: designers, arquitetos,
engenheiros, museólogos, historiadores, artistas, entre tantos outros que se
ligam direta ou indiretamente. É neste imbricamento de pessoas com seus
diferentes olhares e contribuições que a instituições se fortalecem, e
consequentemente a divulgação científica e a sociedade como um todo.
Dentre tantas possibilidades vividas
pelos bolsistas ora na concepção da modernização do espaço museal buscando
alternativas inovadoras que modificasse a forma de interação do museu com o
visitante, ora interagindo com os demais integrantes do projeto, foi possível
experimentar outras e inusitadas experiências que assim somadas conjugaram-se
para moldar suas formações pessoais e profissionais. Em certa medida a sedução
por este espaço fez com que todos pudessem se envolver com a proposta e não
conseguirem mais se distanciar desse lugar de encantamentos.
Referências
Bibliográficas
CHELINI, M. J. E.; LOPES, S. G. B. C. Exposições em
museus de ciências: reflexões e critérios para análise. In: Anais do Museu Paulista, São Paulo. N.
Sér, v.16, n.2, p. 205-238. jul.- dez 2008.
OVIGLI, D. F. B.; FREITAS, D. Contribuições de um centro de ciências
para a formação inicial do professor. In: Anais
do I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia, Ponta
Grossa- PR. Jun 2009.
SOUZA, A. V. S. A Ciência Mora Aqui: Reflexões Acerca
dos Museus e Centros de Ciência Interativos do Brasil. Dissertação (Mestrado em
História da Ciência e da Técnica e Epistemologia do Conhecimento Científico -
IQ/UFRJ, Rio de Janeiro, 161f., 2008.
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