Quem sou eu

Belo Horizonte
O "Colóquio Internacional: Tendências contemporâneas da comunicação científica: desafios e perspectivas" foi promovido pela Diretoria de Divulgação Científica, orgão da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram debatidos os principais desafios da comunicação científica contemporânea tanto em ambientes corporativos quanto em redes entre países da América do Sul.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O POTENCIAL DO PROJETO DE MODERNIZAÇÃO DO MUSEU DE BIODIVERSIDADE DO CERRADO: AMPLIANDO OS ESPAÇOS FORMATIVOS


O POTENCIAL DO PROJETO DE MODERNIZAÇÃO DO MUSEU DE BIODIVERSIDADE DO CERRADO: AMPLIANDO OS ESPAÇOS FORMATIVOS

Gustavo Lopes Ferreira (Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado- gustavolofer@gmail.com)

Helena Morais Pacheco (Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado - hg099@hotmail.com)

Luiz Paulo Costa e Silva (Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado - luizpaulo108@hotmail.com)

Daniela Franco Carvalho Jacobucci (Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado - danielafcj@gmail.com)

Fernanda Helena Nogueira Ferreira (Universidade Federal de Uberlândia/ Museu de Biodiversidade do Cerrado - fernandahelenanogueiraf@gmail.com)

 

Apresentação

            O presente texto baseia-se em vivências de bolsistas integrantes do projeto de modernização do Museu de Biodiversidade do Cerrado (MBC). Na tentativa de tecer reflexões acerca da formação acadêmica em Ciências Biológicas desses participantes, e compreender a sua contribuição, e por vezes, as limitações para atuarem em espaço não formal de educação, no caso em museu de ciências.

            O MBC é voltado à popularização do conhecimento científico acumulado sobre temas do Cerrado, localiza-se na cidade de Uberlândia-MG, contava desde 2002 com uma exposição permanente formada basicamente por animais taxidermizados representativos do bioma acondicionados em vitrines. Certas características museográficas estavam presentes em sua exposição que como propõe Davallon (1986) apud Chelini e Lopes (2008) permitiam o mero encontro do visitante com objetos, em que a “prioridade é ver, contemplar, estar em contato” com o que está exposto. É nesta feição expositiva que se circunscrevia o museu.

            Diante do exposto é que se propôs o projeto “Modernização da Exposição Permanente e Diversificação das Estratégias de Divulgação Científica do Museu de Biodiversidade do Cerrado” [1]. Tal proposta buscou inserir uma nova possibilidade de interação do visitante com a exposição, modificando-se para isto tanto instalações físicas, quanto à diversificação das propostas de atividades de divulgação científica ao público em geral.

            A diversidade de frente de trabalho da equipe proponente que conta com professores e alunos do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Uberlândia e técnicos, permite um olhar amplo para as atividades de democratização do conhecimento científico em articulação com o conhecimento popular e artístico. Para este texto considerou-se a formação acadêmica dos bolsistas envolvidos no projeto de modernização do MBC, numa tentativa de averiguar como a temática educação em espaços não formais e divulgação científica se expressaram em suas vivências curriculares na graduação, e como esta exerceu papel limitador em suas preparações iniciais para atuarem no Museu de Biodiversidade do Cerrado.

Repensando a formação acadêmica dos bolsistas

            Entende-se que algumas dificuldades enfrentadas ao longo do projeto de modernização do MBC estão relacionadas diretamente com a formação inicial dos bolsistas integrantes. Para proceder à reflexão ante suas formações acadêmicas, recorreu-se ao Projeto Pedagógico e ementas de algumas disciplinas do curso de Biologia da Universidade Federal de Uberlândia, em uma tentativa de traçar o que oficialmente está expresso na estrutura curricular, o que efetivamente foi realizado e qual o impacto na formação dos estudantes. Toma-se por referência tal curso de graduação, por ser esta a área básica de formação dos bolsistas envolvidos.

            Pela leitura do Projeto Político Pedagógico dá-se a entender que o estudante estará capacitado para atuar em espaços não formais de educação, sendo capaz de desenvolver seu papel de educador em vários contextos de atuação profissional, o que inclui os museus de ciências. Nesse mesmo documento, evidencia-se a estrutura curricular a qual articula-se basicamente em dois núcleos: Específico e Pedagógico. Revela ainda que as disciplinas do núcleo pedagógico (Projetos Integrados de Práticas Educativas – PIPE e o Estágio Supervisionado) são responsáveis por abarcarem os estudos relacionados a espaços extraescolares. Em contrapartida as ementas de tais disciplinas e a prática cotidiana do currículo privilegiam as ações voltadas ao contexto escolar, o que conduz ao entendimento de que é nesse ambiente o espaço privilegiado e até único em que se efetua a prática pedagógica. Desta maneira, no estudo percebeu-se o que outros trabalhos relataram, indicando a escassez ou a quase inexistência de uma formação específica para a área de divulgação científica (Souza, 2008; Ovigli e Freitas, 2009).

             O grupo de bolsistas inclui-se nessa formação incipiente, cujo foco não se encontra nos espaços não formais e na divulgação científica. Agregando-se a isto, a equipe de trabalho atuante no projeto, não se constituiu de forma multidisciplinar. Devido à falta de profissionais de diversas áreas e o desafio inicialmente proposto, os bolsistas buscaram suprir essa demanda utilizando-se de várias alternativas: conhecimentos empíricos, consulta à literatura, acesso a sites de outros museus do Brasil e exterior. Além disso, realizaram visitas a museus locais, nacionais e internacionais para terem uma referência visual e prática.

            Após lidar com todo esse aprendizado, os bolsistas estão constantemente buscando uma formação diferente da graduação, pautando-se no trabalho em equipe, como ponto de partida das ações, entendendo a diversidade de ideias como fecundo momento de criação. Tal reflexão faz-se presente também no trabalho de Souza (2008).

O potencial da proposta de modernização do Museu de Biodiversidade do Cerrado

Partindo das experiências acumuladas na trajetória do projeto de modernização os bolsistas envolvidos sentiram-se encorajados a prosseguirem atuantes na área de museus. Com essa vivência puderam ampliar sua formação acadêmica inicial, fato que os levaram a traçar encaminhamentos futuros, alguns em via de concretização e outros em amadurecimento, cabe então, apresentá-los ainda que de forma sucinta.

Dentre as atividades propostas pelo grupo, a criação do espaço “Espaço Infantil” foi determinante para despertar novas ideias na bolsista de extensão. Isto se deu pelo fato de que a mesma trabalha na Educação Infantil, o que intensificou o seu interesse em seguir com essa linha de atuação. Partindo disso, a participante tem refletido sobre duas possibilidades de ação futura: propor uma pesquisa de mestrado no âmbito de uma pós-graduação, lidando com a educação e percepção das crianças em relação a Ciência ao estar em contato com esse espaço, ou ainda quem sabe investir em um curso de Pedagogia, um momento em que poderá aliar seus conhecimentos advindos do trabalho no Museu com a melhoria dos processos de aprendizagem dos alunos em sala de aula.

Já o bolsista de iniciação tecnológica industrial, único integrante do grupo ainda estudante do curso de graduação em Ciências Biológicas, ao contrário dos demais, teve a oportunidade de vivenciar uma formação acadêmica diferenciada por conviver, estudar e atuar em um espaço não formal de educação. Auxiliou diretamente uma estudante do Ensino Médio bolsista de Iniciação Científica Júnior (PIBIC/Jr) em uma pesquisa sobre o ensino do Cerrado e a divulgação do mesmo nas escolas do município de Uberlândia-MG. Assim, sua participação nos projetos de modernização do MBC bem como no de ensino sobre o Bioma Cerrado culminarão em seu trabalho de monografia, esta em fase de construção.

            Nesse mesmo sentido o bolsista de apoio técnico ao estar imerso nas atividades do museu e diante da ausência de trabalhos acadêmicos no MBC, propôs um projeto de mestrado ao Programa de Pós-graduação em Educação (PPGED/FACED/UFU), assim em decorrência de sua aprovação no processo seletivo 2012, a proposta de trabalho está em fase de concretização. A pesquisa intitulada “Artefato interativo em museu de ciências: interface entre criação e pesquisa” veio do desdobramento de suas inquietações dadas no trabalho cotidiano no MBC e nas leituras sobre museus de ciências. Tendo em vista a necessidade de dar continuidade à modernização do espaço, a fim de torná-lo mais adequado a realidade do mundo contemporâneo, o trabalho propõe por meio da criação de um artefato interativo inserido à exposição permanente do MBC, verificar sua potencialidade na apropriação do discurso científico pelos visitantes.

Considerações Finais

            O texto apresentado propôs-se de forma sucinta abarcar alguns questionamentos travados no trabalho em um museu de ciências, trazendo no centro do debate a incipiência com que a educação em museus é tratada na formação inicial de professores. Muito ainda precisa ser feito no sentido de trazer ao debate durante a graduação as possibilidades de atuação em tais espaços, não só no curso de Biologia, mas nas demais áreas científicas. Para isto, é preciso promover meios de interlocução entre os estudantes e o museu logo no início do curso, ou mesmo antes, formando alunos da Educação Básica para atuarem como mediadores. Esta não é uma realidade distante, pois em muitas instituições existem programas de sucesso com esta natureza.

            Não se busca a prevalência de profissionais formados em áreas afins as Ciências Naturais como os únicos e necessários aos museus de ciências, pelo contrário, reivindica-se que haja uma diversidade de áreas, como: designers, arquitetos, engenheiros, museólogos, historiadores, artistas, entre tantos outros que se ligam direta ou indiretamente. É neste imbricamento de pessoas com seus diferentes olhares e contribuições que a instituições se fortalecem, e consequentemente a divulgação científica e a sociedade como um todo.

            Dentre tantas possibilidades vividas pelos bolsistas ora na concepção da modernização do espaço museal buscando alternativas inovadoras que modificasse a forma de interação do museu com o visitante, ora interagindo com os demais integrantes do projeto, foi possível experimentar outras e inusitadas experiências que assim somadas conjugaram-se para moldar suas formações pessoais e profissionais. Em certa medida a sedução por este espaço fez com que todos pudessem se envolver com a proposta e não conseguirem mais se distanciar desse lugar de encantamentos.

Referências Bibliográficas

CHELINI, M. J. E.; LOPES, S. G. B. C. Exposições em museus de ciências: reflexões e critérios para análise. In: Anais do Museu Paulista, São Paulo. N. Sér, v.16, n.2, p. 205-238. jul.- dez 2008.

OVIGLI, D. F. B.; FREITAS, D. Contribuições de um centro de ciências para a formação inicial do professor. In: Anais do I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia, Ponta Grossa- PR. Jun 2009.

SOUZA, A. V. S. A Ciência Mora Aqui: Reflexões Acerca dos Museus e Centros de Ciência Interativos do Brasil. Dissertação (Mestrado em História da Ciência e da Técnica e Epistemologia do Conhecimento Científico - IQ/UFRJ, Rio de Janeiro, 161f., 2008.



[1] Aprovado com apoio financeiro do CNPq e FAPEMIG de nº 559231/2009-1

Nenhum comentário:

Postar um comentário