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terça-feira, 16 de outubro de 2012

O jornalismo científico e a percepção pública da saúde


 

Simone Pallone, Patricia A. Santos, Monique Lopes, Milagros Varguez

Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo - Labjor

Universidade Estadual de Campinas - Unicamp

Maio 2012

 

Resumo

 

Nas pesquisas de percepção pública da ciência e tecnologia realizadas no Brasil o tema saúde está, tradicionalmente, entre os de maior interesse dos cidadãos. Saúde também é um dos principais assuntos abordados nos veículos de comunicação (FUNDEP & ANDI, 2009). Diante desta possibilidade de inter-relação, este trabalho objetiva comparar a atuação dos veículos jornalísticos (eletrônicos, digitais e impressos) de maior veiculação no estado de São Paulo com os resultados da Pesquisa de Percepção Pública da C&T em Saúde, realizada em 2012 pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), em parceria com o Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e o Instituto de Investigação em Imunologia / Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – iii-INCT.

Na comparação, serão analisados especificamente os efeitos de framing, ou enquadramento, na perspectiva de Entman (1993), Scheufele (2007) e Zanetti (2008). Nesta abordagem, alguma parte da realidade percebida é selecionada e torna-se mais saliente em um conteúdo de comunicação. O aspecto destacado pode ser uma definição, interpretação, causa, avaliação moral ou uma recomendação à questão. Assim, a maneira como tal questão é apreendida pela audiência seria uma consequência do enquadramento escolhido e promovido.  Ao analisarmos o enquadramento, é como se o efeito da exposição, conforme a agenda da mídia, fosse marcado como uma “etiqueta” a qual será usada para descrever uma questão na notícia.

A ideia da pesquisa foi então analisar em que medida as notícias publicadas no período em que foi realizada a enquete de percepção da saúde podem ter influenciado as respostas dos entrevistados sobre o tema saúde.

As matérias jornalísticas analisadas são referentes ao período de 7 a 23 de fevereiro de 2012. Os veículos selecionados foram os jornais televisivos Band News, Jornal Nacional e o Bom Dia Brasil; na internet, os jornais Estadao.com.br, Folha Online, G1 e Portal Terra; o jornal impresso Folha de S.Paulo; a revista impressa Veja; e os programas de televisão Fantástico (revista eletrônica) e Bem Estar (entretenimento). Foram consideradas as publicações jornalísticas nas seções “Saúde” ou correlatas em cada veículo totalizando 378 conteúdos. A revista Veja foi analisada como um todo. No total foram selecionadas 379 matérias. Eliminadas as repetições e aquelas que não consideramos como temática em saúde, apesar de figurarem na editoria, restaram 318.

Uma das dificuldades do trabalho foi a divisão de matérias em categorias que nos ajudassem a compreender qual era a informação principal, por ser um tema no qual os conteúdos se inter-relacionam. Tal constatação se deu principalmente ao analisar as matérias que abordam doenças e, ao mesmo tempo, falavam sobre política de saúde, por exemplo, ou marcavam o avanço em pesquisa de uma área. Por esse motivo se realizaram diversas reuniões tentando esclarecer as categorias a utilizar para a análise do conteúdo.

Com um maior esclarecimento sobre as diversas divisões de temas, se optou pelas seguintes categorias para uma melhor análise da informação: Nutrição/Alimentação, Meio Ambiente e Saúde, Estética/Beleza, Imunização/Sedentarismo, Avanços Médicos/Pesquisa, Saúde Epidemiológica, Doenças Transmissíveis, Promoção e Comportamento Saudável, Doenças Não Transmissíveis e Economia da Saúde. A seleção de categorias teve como base pesquisa realizada por Brosque (2004), considerando-se outras possibilidades de variáveis anteriormente.

As datas de publicação das matérias da amostra correspondem ao mesmo período de aplicação dos questionários da Pesquisa de Percepção, cujos dados ainda não foram publicados pelo Labjor, mas foram cedidos para este trabalho. Na pesquisa, foram realizadas 1511 entrevistas em 109 cidades do estado de São Paulo, sendo 394 na capital, 317 nas cidades da região metropolitana de São Paulo e 800 no interior do estado. O trabalho de campo foi realizado pela empresa de opinião pública Instituto Datafolha. A margem de erro máxima do total da amostra, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%, é de 3%. Todos os entrevistados eram maiores de 16 anos, sendo a média da idade da amostra situada em 40 anos. A distribuição da amostra é semelhante ao perfil da população do estado, conforme os dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – responsável pela realização do Censo Demográfico no Brasil.

A partir dessa breve análise, foi possível observar uma prevalência de matérias sobre saúde no jornal impresso, que já reserva um espaço especial para o tema. Mais de 60 temas relacionados com saúde foram identificados nos textos. Observou-se também uma correlação entre temas de saúde tratados na mídia e aqueles apontados pelos entrevistados na pesquisa de percepção como assuntos de interesse ou preocupação, por exemplo.

A partir deste panorama, este trabalho, que está em andamento, pretende aprofundar-se na análise de enquadramento e sua relação com os resultados da pesquisa de percepção, verificando, portanto, o papel do jornalismo na formação de opinião do público em geral sobre saúde no estado de São Paulo, de forma a contribuir para o entendimento dos fenômenos midiáticos.

 

 

Palavras-chave: Jornalismo científico em saúde, percepção pública da ciência, framing, enquadramento.

 

 

 

 

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